DAS MUITAS DIFICULDADES

Quando adentramos o pequeno barraco de alvenaria, coberto com telhas de cimento, sentimos ali, mais intensamente o calor de um dia ensolarado.

Sobre a cama do quarto-sala, cozinha-enfermaria, estava ele deitadinho! Sofre de síndrome rara...tem a idade de minha netinha de três anos incompletos. Só que bem miudinho. Estivera internado por uma semana na Ala Infantil do hospital. Os seus globos oculares, salientes, sofrem com problemas ainda não diagnosticados pelos médicos; está usando oxigênio de uma bala cedida pelo Órgão Público da Saúde de DF, precisa de fisioterapia, que não está sendo feita, devido a falta de condições de transporte adequado deste pequeno paciente a um local de tratamento.

O irmãozinho de nove, também da idade do meu neto, que há pouco fez uma cirurgia na cabeça para retirada de um tumor, não pode contar com simpatia do padrasto que o castiga severamente! A irmãzinha de sete, sofre com alergias provocadas pela poeira do local, do sofá velho, cheio de ácaros! Ali conosco estivera o chefe da casa, que teve que sair para vender seus din-dins, em lugar bem distante. A mãezinha, muito aplicada, cuidava do doentinho e do resto. Enchia os sacolés para serem vendidos . O sol batia forte pela janela sem cortina.

Bateu em mim uma “deprê” daquelas! Pensava que o povo estivesse passando por dificuldades, mas nem tanto! O pacientezinho saíra do hospital sem o exame dos olhos! Falta aparelhagem, falta vontade política dos governantes, ainda alheios a tantos sofrimentos.

Ficamos impressionados com a morte de tanta gente ao mesmo tempo, num mesmo local, neste recente acidente aéreo que presenciamos pelas televisões de todo o país, quando ainda chorávamos as vítimas do outro acidente, até então considerado o maior de nossa história da aviação. Só que o de agora superou, sobejamente, àquele! Igualmente, pessoas estão perecendo todos os dias por desassistência, aos milhares: falta desde o mais custoso aparelho, a uma orientação que possa prevenir simples doenças.

Do modo como vai, serão contabilizados, ainda, um montão de vítimas do descaso dos governantes, que desviam verbas da saúde para suntuosas obras de pontes, milionários viadutos. Silenciosamente, acontecerão mortandades que não se poderão comparar a essas dos acidentes aéreos. Sem uma cobertura especial da imprensa, sem fogo, mesmo nas consciências!

Sobradinho- DF, 26/07/07