Vieux papiers...
Minha alergia por papéis velhos só perde para a alegria da tentação de compulsá-los. E foi o que pude constatar, quando despejei todo o conteúdo daquela pasta preta, que mamãe guarda zelosamente, antiga e já sem fecho - de 1969 - onde ainda se pode ler Faculdade de Letras UFMG - ano em que comecei a cursar a universidade, na rua Carangola, 88, Santo Antônio, Belo Horizonte...
E o que saiu de postais amarelecidos daquele despejo fez-me perder a noção das horas, e o calor virginal do café matinal. Mas me refestelei na leitura, ainda que muito perfunctória das mais de 200 peças ia manuseando, ora lento, ora com a leveza do vento - e a redescoberta do advento...
O que está ali não passa de uma fração de nossas múltiplas correspondências familiares e de amigos ao longo dos anos que, espalhadas, ou tiveram a ventura de encontrar um abrigo feito a pasta preta, ou tenham caído no oblívio. Isso sem contar as missivas que menos ou mais permissivas não costumam coabitar com os mais exuberantes e superficiais postais...
Entre os mais anciões, que rivalizam em idade com a dita pasta, encontrei correspondência do Professor Santiago, amigo, conterrâneo e colega de ainda maior ancestralidade que também teve uma pasta dessas e vai ver que lhe deu um fim de ainda maior dignidade, entronizando-a num oratório de Dona Terezinha, sua saudosa progenitora.
Interessante é achar ali na papelada, postal de meados dos anos setenta, do violeiro Reinaldo Rohr, da Grécia, quiçá de olhos postos numa cítara, e dirigido justamente a mamãe, afirmando com toda fé que ainda seria um músico famoso.
E o foi, para todos quantos se interessam pela música na Velha Serrana, pela sua dedicação quase exclusiva a dar melodia e cor às centenas de composições do dito Professor Santiago e de Jonba, de ambos, terceiro parceiro, compositor de música de terreiro...