RECORDAÇÕES SURFÍSTICAS DOS ANOS 60 EM SANTOS

RECORDAÇÕES SURFÍSTICAS DOS ANOS 60

O inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente, ele é herdado. É um conjunto de sentimentos, pensamentos e lembranças compartilhadas por toda a humanidade.

Eu acredito em inconsciente coletivo. Quando uma atividade humana está prestes a desabrochar em determinada sociedade ou local, o universo conspira para que tal aconteça. E assim começou o surf em nossas praias. Eu já lera algum texto a respeito dos hábitos dos reis havaianos, mas não havia dado atenção. De repente, em uma conversa em frente ao Restaurante Gaúdio, no Gonzaguinha em São Vicente, Di Renzo comentou que havia lido uma reportagem sobre um novo hábito adotado pela juventude carioca: correr ondas de pé, em pranchas fabricadas para esse fim. Eu e Sérgio Heleno íamos sempre ao Rio de janeiro visitar nossa amiga Ana Amélia e relatamos que tínhamos visto uns caras carregando umas pranchas “diferentes” em direção à praia, outros pegando ondas no Arpoador. Di Renzo trouxe a revista e confirmamos o que havíamos visto. Eram poucos que praticavam essa nova “moda”. Essa “moda” chamava-se Surf.

Encomendei ao arquivo da Enciclopédia Barsa uma pesquisa sobre surf e recebi um caderno em Inglês contando a história do surf. Era mais ou menos assim:

O surf era praticado há mais de mil anos pelos polinésicos e os ingleses que colonizaram o Havaí tiveram o primeiro contato com o esporte dos reis havaianos. A prática do surf era vista pelos missionários como imprópria e a mesma foi banida, o que quase levou à extinção desta tradição havaiana. A ressurreição da cultura do surf passou pelas mãos de dois homens: George Freeth e Duke Kahanamoku. George foi um dos primeiros 'beach boys' de Waikiki, um grupo que ainda praticava o então raro desporto do surf. Freeth conheceu em 1907 um escritor americano, Jack London, que rapidamente ficou fascinado com o desporto. O escritor publicaria um artigo sobre esta prática e tornaria célebre George Freeth. George mudava-se de armas e bagagens para a Califórnia, onde demonstrava as suas habilidades em Venice Beach, onde ficou conhecido como o "homem que conseguia andar na água". É por isso justamente atribuído a Freeth o mérito de ter chamado a atenção dos americanos para o surf. (Fonte: SURFTOTAL)

Mas quem levou o nome do surf um pouco por todo mundo foi Duke Kahanamoku, que em 1912, em representação dos Estados Unidos, ganhou várias medalhas nos Jogos Olímpicos de Estocolmo. A partir desse momento, Duke viajou pelo mundo como embaixador havaiano, e espalhou o espírito Aloha por todo o mundo, apresentando o surf em países com a Austrália e a Nova Zelândia, que rapidamente abraçaram a modalidade. Um dos companheiros de Duke foi o californiano Tom Blake, também ele um dos pioneiros do surf, ao organizar o primeiro campeonato de surf do Pacífico, que ele próprio venceu. (Fonte: SURFTOTAL)

Começamos então e procurar uma maneira de fabricar uma prancha que nos desse a condição de “pegar” ondas em pé. Eu e Sérgio passávamos os dias na praia de Itararé correndo ondas de peito quando havia ressaca e os guardas salvas vidas já haviam nos repreendido por entrar o mar quando estava muito “bravo”. Como éramos nadadores, víamos essas ocasiões como pura diversão. Em resumo, fabricamos duas pranchas tipo caixa de fósforos, começamos a surfar, demos o modelo da prancha TIKI que a Glaspac copiou, e começamos a surfar diariamente. Passamos a ver o surf com um esporte, pois antes era um hábito novo. É justamente isso que diferenciou a época das anteriores: a prática constante e o grande número de adeptos que rapidamente se formou. Em apenas dois ou três meses haviam muitos rapazes entusiasmados com o esporte e começamos a cogitar a realização de um campeonato. Muitos começaram a se destacar: os irmãos Argento. Fernandão, Miron, Eduardo Fangiano,Nelsinho Axel, etc. Começou a aparecer o pessoal de Santos: Piolho, Marques, Miguel Alemão, Homero, Alan, e outros. Cada vez mais pessoas foram contagiadas pelo surf. Nos dias de chuva, ficava uma galera na praia, passando frio, com fome, mas ninguém arredava o pé da areia, a não ser para pegar uma prancha emprestada, pois nem todos possuíam o equipamento. Acidentes aconteciam, as pranchas eram pesadas e a cordinha não havia sido inventada, qualquer tombo fazia com que a onda carregasse a prancha para longe, sem controle, e muitas vezes atingia um banhista. Era realmente perigoso. Tanto que, após negociações, demarcaram uma região da praia na qual era permitido surfar. Como antiderrapante catava-se restos de velas de despachos e aplicava-se como parafina. E alguns acidentes com surfista nos dias de ressaca. Lembro de uma ocasião que o Sidnei Negão sofreu um corte na virilha. Ao sair da onda, sentou na prancha, que girou e a quilha atingiu nosso amigo. No mesmo dia o Ney Sobral levou uma vaca e bateu a cabeça na prancha,

Em 1966 realizou-se um campeonato promovido pelo Ilha Porchat Clube no canto da Praia do Itararé com a presença de alguns surfistas cariocas, entre eles o Mudinho que era foi campeão máster, eu fui terceiro colocado.

Cada vez mais pessoas foram contagiadas pelo surf. Nos dias de chuva, ficava uma galera na praia, passando frio, com fome, mas ninguém arredava o pé da areia, a não ser para pegar uma prancha emprestada, pois nem todos possuíam o equipamento. Acidentes aconteciam, as pranchas eram pesadas e a cordinha não havia sido inventada, qualquer tombo fazia com que a onda carregasse a prancha para longe, sem controle, e muitas vezes atingia um banhista. Era realmente perigoso. Tanto que, após negociações, demarcaram uma região da praia na qual era permitido surfar. Como antiderrapante catava-se restos de velas de despachos e aplicava-se como parafina.

Bom, é o que temos para hoje.

Paulo Miorim

Santos, 20/01/2018

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 28/01/2018
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