UM LUGAR DE SONHO
Era um dia de janeiro de 1986. Eu viajava num ônibus que ia de Água Boa, no interior do Mato Grosso, para Carazinho, no norte gaúcho. Tomei esse ônibus em Barra do Garças e iria até Carazinho, onde embarcaria noutro para Porto Alegre.
Na madrugada do segundo dia de viagem, e faltando poucas horas para o destino, paramos na cidadezinha de Xaxim, em Santa Catarina. Uma parada de trinta minutos para um café. Era verão no Sul e uma névoa tépida cobria a cidade e seu silêncio, àquela hora.
Enquanto os outros passageiros dirigiam-se para o café, caminhei até a praça central, ali bem perto, e fiquei a ouvir o silêncio, de repente quebrado por três badaladas graves do relógio da matriz. Pensei em como seria bom poder ficar ali, naquele lugar aprazível e tranquilo, onde a paz parecia evidente, eu que vivia uma rotina estressante, de trabalho sem tréguas e muitas cobranças todos os dias. Mas meu devaneio se desfez, quando o motorista do ônibus acendeu e apagou três vezes os faróis, anunciando que era hora de partir.
Prometi a mim mesmo voltar a Xaxim, cidadezinha de conto-de-fadas. O tempo passou e eu não cumpri a promessa. Talvez seja agora o tempo cumpri-la.