Meu pai
Meu pai, Thomaz Lodi, foi um homem e pai exemplar. Religioso, dedicado à família, incorruptível, dividia seu tempo entre a família, o trabalho e a religião. Jamais bebeu, fumou ou jogou. Bem, quanto a jogar, certa vez, fez uma exceção, mas por um bom motivo. É que estava chegando o inverno e os seus seis filhos precisavam, para as noites frias, de cobertores e lençóis. E o dinheiro minguado de funcionário público, naquela época ganhavam muito pouco, não ia dar para as compras desejadas. Foi para o trabalho, de manhã cedo, pedindo a Deus uma solução para o problema. Chegou a pensar em tirar um empréstimo. Assim que chegou à repartição, um colega de trabalho, sem saber da sua situação, convidou-o para fazer uma fezinha no jogo do bicho. Sua primeira reação foi de recusa; ora, nunca jogara, não ia fazer isso agora. Mas o amigo insistiu explicando a ele que era uma quantia pequena, tiraria do café, que faria o jogo apostando no número da nossa casa, 294, e que de tarde já teria o resultado. O velho Lodi pensou, pensou e fez uma oração: “- Senhor, é por causa dos meus filhos, mas prometo que nunca mais, não importa o que aconteça, voltarei a jogar.” E deu ao amigo o dinheiro que gastaria no café, para fazer o jogo, e foi trabalhar, esquecendo o assunto. Qual não foi sua surpresa quando, no final da tarde, seu amigo entregou a ele uma determinada soma em dinheiro, dizendo: “- Lodi, seu sortudo, deu o 294 e você ganhou.” Saindo do trabalho, meu pai foi direto para a Rua da Alfândega fazer as compras. Chegou em casa com dois enormes embrulhos de cobertores e lençóis, e rindo muito contou à família o sucedido. Meu pai morreu aos 97 anos, amado por sua esposa, filhos e netos, sem que jamais, excetuando aquela única vez, tenha voltado a jogar.