SER PRATEIRO NÃO É PRA QUALQUER UM

Estava hoje na fila pra comprar ingresso pra assistir The Post, ótimo por sinal, quando conheci um prateiro, Vitório, que veria o filme com a esposa.

Prateiro é aquele cara na orquestra que bate dois pratos em determinada parte da música.

Na minha absoluta inocência, achava que ele tinha o trabalho mais mole do mundo, bater um prato contra o outro e fim.

Que nada.

Pra minha surpresa ele estudou percussão anos a fio e até hoje pratica, ensaia, várias horas por dia junto aos demais colegas instrumentistas.

Os pratos, feitos de mistura de aço e cobre, pesam uns 3 quilos.

Isso quer dizer que pra usá-los tem que fazer certo esforço.

Batê-los corretamente exige habilidade, atenção e talento, tendo uma hora exata pra isso acontecer. Segundo exato pra ser mais preciso.

E se o prateiro vacilar, batendo fora do compasso previamente imaginado pelo compositor que estiver sendo executado (quero dizer tocado, não morto), vai destoar e será deslize imperdoável.

Pois vai sair da métrica da composição, cujo autor previu o momento exato em que os pratos deveriam ser batidos.

Tem variação de intensidade de batida e formas diferentes de como isso deveria ser feito, por incrível que possa parecer.

E custam uns R$ 3.500 0 casal, quero dizer, o par.

Ele gosta de ser prateiro, tem orgulho disso, e domina outros instrumentos de percussão - triângulo, tambor e mais alguns que não recordo agora.

É concursado na Orquestra Sinfônica Municipal. Apesar de aposentado, não abandonou o batente, continuando a exercer seu ofício de prateiro, com alegria e satisfação.

Imagino a minha reação, e a de outros pais, se num belo dia o filho olhasse fixo nos olhos e falasse que o sonho de vida dele era ser prateiro.

Poderia pensar tudo, menos nele como integrante de orquestra sinfônica e entrando em cena para a tornar a apresentação mais mais bela.

Vitoriosamente bela.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 27/01/2018
Reeditado em 31/01/2018
Código do texto: T6237470
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