SER PRATEIRO NÃO É PRA QUALQUER UM
Estava hoje na fila pra comprar ingresso pra assistir The Post, ótimo por sinal, quando conheci um prateiro, Vitório, que veria o filme com a esposa.
Prateiro é aquele cara na orquestra que bate dois pratos em determinada parte da música.
Na minha absoluta inocência, achava que ele tinha o trabalho mais mole do mundo, bater um prato contra o outro e fim.
Que nada.
Pra minha surpresa ele estudou percussão anos a fio e até hoje pratica, ensaia, várias horas por dia junto aos demais colegas instrumentistas.
Os pratos, feitos de mistura de aço e cobre, pesam uns 3 quilos.
Isso quer dizer que pra usá-los tem que fazer certo esforço.
Batê-los corretamente exige habilidade, atenção e talento, tendo uma hora exata pra isso acontecer. Segundo exato pra ser mais preciso.
E se o prateiro vacilar, batendo fora do compasso previamente imaginado pelo compositor que estiver sendo executado (quero dizer tocado, não morto), vai destoar e será deslize imperdoável.
Pois vai sair da métrica da composição, cujo autor previu o momento exato em que os pratos deveriam ser batidos.
Tem variação de intensidade de batida e formas diferentes de como isso deveria ser feito, por incrível que possa parecer.
E custam uns R$ 3.500 0 casal, quero dizer, o par.
Ele gosta de ser prateiro, tem orgulho disso, e domina outros instrumentos de percussão - triângulo, tambor e mais alguns que não recordo agora.
É concursado na Orquestra Sinfônica Municipal. Apesar de aposentado, não abandonou o batente, continuando a exercer seu ofício de prateiro, com alegria e satisfação.
Imagino a minha reação, e a de outros pais, se num belo dia o filho olhasse fixo nos olhos e falasse que o sonho de vida dele era ser prateiro.
Poderia pensar tudo, menos nele como integrante de orquestra sinfônica e entrando em cena para a tornar a apresentação mais mais bela.
Vitoriosamente bela.
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