RUGAS TIPO CLINT EASTWOOD
Aproximei-me da fila da lotérica e da entrada avistei um sósia de Clint Eastwood, talvez com algum esforço, ignorando vários kg e a abundância de cabelos.
Era o Gilberto, certamente que não havia parentesco com o Clint, somente alguns traços.
Enquanto o observava dei-me conta que nos últimos 10 anos, período que não nos víamos, ele remoçara e aparentava os meus 62 anos e eu os 76 dele.
Aproximei-me e chamei-lhe pelo nome, então ele voltou-se indagando-me como se nunca tivéssemos nos vistos:
- Pois não?
Veio-me as incontáveis horas de conversas, da colaboração mútua, os cafezinhos e até a filagem de alguns cigarros, tanto por mim, quanto por ele.
Durante alguns minutos de conversa ele mostrou-se confuso, confessando-me que não lembrava-se de mim. Não insisti, mas puxei por alguns fatos de conhecimento em comum. Sem ter certeza, pareceu-me que ele não queria lembrar-se do que lhe fora desagradável.
Naqueles quase 10 minutos, conversamos de tudo um pouco, até que ele despediu-se, pois tinha que levar para casa algumas compras que a esposa havia esquecido de adquirir na véspera. Bem baixinho ele confidenciou que ela andava muito esquecida e aquilo o preocupava.
Lá se foi ele, na direção da casa, onde mora a mais de 40 anos.
Gilberto fora o meu segundo comandante, eu com 17 anos e ele com 32, então desde lá nutro admiração, por ele, admiração pessoal e profissional.
Pela segunda vez assustei-me e senti medo da memória, como se ela fosse um guloso que anda devorando lembranças, como se fossem pedaços de torta Marta Rocha!
Do livro: Abrindo gavetas da Memoria - 2017 - 2018
Sétima Crônica