Pra variar a festa já tinha acabado, mas eu ainda estava lá.

Ele fora o palhaço da noite de aniversário... e o resto das crianças, não o reconheceram sem a maquiagem e o enorme e encardido nariz vermelho. Mas eu vi, ERA ELE, SIM..., fumando um cigarro de palha fedido... e segurando um copo de plástico, desses de festinha de criança pequena, só que com cerveja, a espuma transbordando pelos seus dedos sujos. Ele conversava com o porteiro do prédio. Eles não pareciam se gostar. Não pareciam nem um pouco interessados um no outro, mas continuavam conversando mesmo assim...

Eu me aproximei e eles pararam de conversar.


- Você é o palhaço, não é? - Eu perguntei.

Ele não me respondeu. Apenas me olhou. Me encarou... com muito desprezo. Com um semblante que dizia algo como:
“Jesus Cristo, por favor me deixe tomar a minha cerveja quente no copinho de plástico em paz!!...”.

Ele tinha um olhar cansado, triste... impaciente... bem diferente daquela animação de felicidade plena, durante a sua apresentação na hora da festa e com o rosto pintado.

Eles então voltaram a se conversar, de forma desanimada e arrastada... como se eu nem estivesse mais ali.

... talvez eu não estivesse.