Mas a menina tinha tinta no cabelo
Estava sentada na mesa do trabalho rasurando frases a esmo quando uma música que a muito tempo não ouvia me veio à mente e me fez pensar. Bem clichê, talvez nem Eduardo e nem Mônica tivessem noção do quanto suas ações refletiriam e esboçariam tantos traços numa população que nem sabe quem é Godard e já nem anda de camelo. A verdade é que nos encontros e desencontros, borboletas no estômago proporcionam prescrições de antibióticos fortíssimos, sem questionarmos cafés em tamanhos triplicados e doses cavalares de conhaque às nove da manhã. Toda festa é estranha, esquisita e tá acabando a minha birita.
É irreal, estranho o quanto as histórias de amor têm se tornado um tabu tão grande quanto falar de menstruação a dez anos atrás e o quanto um abraço ou um sorriso sincero podem render assuntos para muitas semanas em um ambiente de pessoas vazias. Talvez minha alma seja poeta demais e busque os prazeres da vida nas entrelinhas dos olhares que se cruzam em 10 (suficientes) segundos dentro de um elevador ou em observar as pessoas enquanto traço qualquer rota caminhando porque me adiantei alguns minutos. Talvez eu esteja mesmo perdendo meu tempo derramando lágrimas no final de algum filme que já assisti inúmeras vezes. Quando se trata de qualquer copo eu só sei transbordar, enchendo-me num abraço e ficando nas pontas dos pés pra unir dois sorrisos. Me permito escolher uma música antes mesmo de levantar da cama, cantar enquanto a água do chuveiro esquenta e dormir um pouco mais tarde só pra observar alguns minutos de respiração tranquila. Completando a lista de incertezas, talvez eu seja o caos em meio ao silêncio e não compreenda tamanha frieza daqueles que não permitem surpreender-se.
Renato traduziu um inexistente e quanto às borboletas, me permito intoxicar. E quem irá dizer que não existe razão, nas coisas feitas pelo coração?