O perigoso estresse no trânsito

O perigoso estresse no trânsito pode trazer situações constrangedoras ou até mesmo atos mais violentos, como vemos, de vez em quando, divulgados na mídia. Presenciei um destes casos, certo dia, numa rua de minha cidade em que não havia estacionamento especial para motocicletas. Houve a coincidência de, numa tarde barulhenta, um motociclista disputar a mesma vaga em 45 graus com um motorista. O automóvel estava mais próximo, já ocupando o lugar quando o motociclista, trazendo uma passageira na garupa, veio estacionar. Confiando na sua habilidade, resolveu adentrar pela esquerda no citado espaço. Foi aparentemente fechado pelo motorista e acabou colidindo com o para-choque traseiro do carro. Não deu para perceber estragos de nenhum dos dois lados, mas uma discussão acirrada surgiu rapidamente.
- Foi muita ignorância de sua parte, disse o motociclista! 
Ao que o motorista respondeu:
- Você viu que não cabia a moto e quis avançar para me afrontar.
O motociclista, irritado, retrucou:
- Você sabe o quanto está difícil estacionar nesta cidade! É muita falta de consciência! É claro que me cabia aí do lado!
O outro ainda mais irado respondeu:
- Sim. Ao lado e não batendo no para-choque de propósito. O motociclista aumentou o tom de voz para apontar possíveis falhas do outro ao estacionar:
- Acontece que você não acionou a seta do carro. Entrou de uma vez e me fechou de sacanagem...
Nesta acalorada discussão que já caminhava para um nível desagradável, ninguém se lembrava de conferir os estragos. Estavam chegando às palavras de baixo calão, quando eu percebi que a passageira da moto – que conservava alguma lucidez – estava tentando interromper o motociclista, que não lhe dava atenção.
A discussão durava coisa de pouco mais de um minuto, quando ela, finalmente conseguiu ser ouvida e o inesperado aconteceu:
- Meu bem, meu bem! Este carro é do Pedro, nosso padrinho de casamento, lembra?
O motociclista emudeceu! Tirou imediatamente o capacete e aproximou-se do colega que, igualmente envergonhado o reconheceu e desceu do carro.
- Vamos fazer um lanche aqui em frente, convidou o motorista. Ao que o "amigo" respondeu:
- Vamos, mas primeiro preciso ver se não estraguei o seu carro.
A esposa se antecipou e disse que havia apenas um pequeno arranhão no para-choque. Trocaram sorrisos amarelos, enquanto na calçada alguns curiosos, sem saber de nada, aguardavam um possível “segundo round”, que jamais iria acontecer.
Este foi um final tranquilo por pura obra do acaso, que colocou padrinho e afilhado de casamento num pequeno problema no trânsito, diferentemente de casos extremos em que vidas são ceifadas em discussões fúteis.
Assim mesmo, fiquei refletindo o quão nocivo é esse estresse! Neste caso, sobre a placa do veículo, não costumamos memorizar nem a do nosso, quanto mais a dos amigos. Os veículos de hoje, apesar de marcas diferentes, são muito iguais em cores e modelos. Mas como é que um amigo não conseguiu reconhecer a voz do outro durante uma discussão no trânsito? 
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 26/01/2018
Reeditado em 26/01/2018
Código do texto: T6237063
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