PIONEIRISMO NO SURF
PIONEIRISMO NO SURF
“Importante não é ver o que ninguém nunca viu, mas sim, pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo que todo mundo vê.”
Arthur Schopenhauer
Segunda feira, 22/01/2018, eu e quatro amigos recebemos homenagem por ter colaborado com o início do surf como esporte na Baixada Santista. Isto quer dizer que mais que pegar ou dropar uma onda, adotamos a prática contínua dessa modalidade esportiva em nosso dia a dia e, com nosso exemplo, contagiamos a juventude que frequentava as praias de nossas cidades.
Essa comenda, além da satisfação e do sentimento gratificante que provocou, me fez refletir sobre o que nos instigou e nos levou a realizar o sonho cavalgar ondas. Víamos fotos de grandes ondas em outros países e isso criava dúvidas se nossas ondas teriam capacidade de transportar um homem e sua prancha. Que segredos técnicos ocultariam as pranchas de surf quanto ao formato, material de construção e quilhas que permitissem flutuabilidade e direcionabilidade para o praticante de surf? Mistério. Não podemos esquecer que não havia whatsapp, celular, e muito menos Google. Depois de umas discussões e de muitos palpites concordamos em executar um projeto: uma prancha de 2,40 metros de comprimento com 0,60 metros na parte mais larga, estrutura em cavername, frente (proa) e traseira (popa) em madeira maciça, revestida com compensado naval, uma quilha (que chamávamos de bolina) e um local para que a água armazenada saísse.. Cavername, para quem não sabe, é o conjunto de costelas dos barcos de madeira, que dão à estrutura necessária à embarcação. É o conjunto de cavernas unidas por peças longitudinais chamadas eixos. O Gregório Stipanich se propôs a fabricar esse sonho, idealizado por ele mesmo, eu, Sérgio Heleno e Antônio Di Renzo Filho. O sr. Stipanich, pai de nosso saudoso amigo fabricava grandes barcos de pesca em madeira. Na época, Gregório projetava e trabalhava na construção de barcos enormes. Fez um projeto naval para aquela pequena “embarcação” e nos mostrou. Aprovamos em consenso, e, dia seguinte, Gregório começou a confeccionar a prancha. Fazia escondido de seu pai, que jamais entenderia aquela perda de tempo e material. Visitamos algumas vezes o estaleiro, que ficava no Japuí, bairro entre São Vicente e Praia Grande. Entre grandes estruturas de barcos, em um cantinho, ficava aquela pequena estrutura apoiada em dois cavaletes. Acompanhamos cada etapa da fabricação. Aos poucos foi surgindo nossa prancha, tal e qual havíamos idealizado. Concluídos os trabalhos, aquela preciosidade foi pintada de cinza metálica com um grande raio vermelho.
Tudo isso, por mais simples que pareça, criamos a partir de um ímpeto, de uma grande vontade de andar em pé sobre uma onda, de preferência grande, e saber quais sensações essa situação nos proporcionaria. Ou seja, como a frase do início, vimos com novo olhar aquilo que estava na frente de todos. Talvez pioneirismo seja isso.
Paulo Miorim
24/01/2018