SONETO ÀS AVESSAS
Na tarde de segunda-feira, propus-me a escrever um soneto. Mal tinha iniciado o segundo verso da terceira estrofe, meu filho chegou.
– Mãe, preciso imprimir umas coisas.
Prontamente, dei-lhe o lugar. Na hora, não lembrei de anotar as ideias.
O tempo passou, quando ele saiu, fui retomar minha produção. Nada. A inspiração havia desaparecido.
Embora lesse e relesse os versos anteriores, nada fluiu.
Chateada, liguei a televisão. A maioria das notícias estavam vinculadas às roubalheiras de políticos brasileiros e às loucuras dos presidentes da Venezuela e dos EEUU. Revoltada, comecei a redigir outro soneto, o qual iniciei pelos tercetos.
Toca o telefone, era uma amiga solicitando-me um favor frente ao estado gravíssimo de um familiar. Nervosa, esqueci do que estava fazendo.
À noite, sem nenhuma percepção literária, juntei as partes e enviei a uma amiga. Esta, ao lê-lo, não encontrou coesão entre os quartetos e os tercetos. Delicadamente, enviou-me uma mensagem, perguntando:
– O que aconteceu? Senti como se houvesse ocorrido uma mudança de tema, nos dois tercetos. Não sei explicar. Parecem versos de outro poema. kkkkk
Na madrugada de hoje, ao constatar a bagunça feita, rindo, murmurei:
– Coisa de doido! Este é o legítimo soneto às avessas.
POR MAIS RIGOR
No céu, aves voam saudando a primavera,
num bailado harmônico e apoteótico.
Um poema nasceu tal qual me aprouvera
sob ruídos florais similares a um cântico.
Ao descrever belezas locais, na véspera,
li Gonçalves Magalhães, escritor romântico,
a fim de ser super genuína e sincera
às suas qualidades num contexto idêntico.
Reflexões e fé nortearam estes versos,
confiante de que o país terá fulgor
e que acabarão falcatruas e mentiras.
À sujeira política, os jovens são adversos.
Eles querem do judiciário rigor;
estão cansados de ouvir tantas besteiras.