DIANA E LIANA

Como esquecer uma amizade tão especial como a de Diana e Liana?

Eu as observava no colégio com certa curiosidade e êxtase. As duas estavam sempre juntas e, às vezes, circulavam pelo pátio de mãos dadas. Em dias muito frios, ficavam abraçadas no banquinho do pátio tomando sol. Ninguém falava nada, mas sei que despertavam a curiosidade e o imaginário de muita gente...

Eram simpáticas com todos e sempre alegres e divertidas. De vez em quando se isolavam um pouquinho e conversavam baixinho, quase sussurrando. Parecia que nada poderia abalar ou destruir aquela amizade.

Até que surgiu o Cláudio.

Cláudio era goleiro do time de handball. Olhos azuis, cabelos negros, queixo largo e duas covinhas que eram elogiadas tanto quanto o seu sorriso. As meninas suspiravam e eu... Bem, eu achava o Cláudio bonitinho, não era de se jogar fora e considerava um exagero sem fim os gritinhos histéricos de minhas amigas nos jogos intercolegiais. Era um carinha maneiro.

Liana e Diana eram da mesma turma, mas tinham outras atividades distintas às tardes. Liana fazia ginástica rítmica e Diana, um cursinho pré-vestibular. Quando não estavam juntas, se falavam ao telefone à noite.

No mesmo horário da aula de ginástica rítmica, também havia treino da seleção de handball. Logo, Cláudio e Liana se tornaram amigos e costumavam lanchar juntos quando terminavam suas atividades.

Tudo parecia transcorrer normalmente, até o dia da Festa Junina realizada em nosso colégio. Como fazíamos todos os anos, parte da renda era revertida para alguma instituição de caridade ou comunidade escolhida previamente pelo grupo organizador do evento.

Os preparativos eram divertidos e todos os alunos do Científico se empenhavam para que nada desse errado. Separávamos-nos em pequenas equipes e éramos monitorados por um coordenador. Neste ano, Cláudio resolveu participar do grupo da Diana e da Liana. Eu já tinha notado que Diana andava com cara de “poucos amigos” nos últimos dias, mas não tinha reparado na aproximação de Cláudio e Liana. O que era dúvida começava a tomar forma e, no dia da festa, tudo ficou muito claro.

Naquele ano, decidimos que a arrecadação da festa seria destinada a uma colônia de pescadores. Durante toda a festa, Diana e Liana ficaram juntas na barraca de doces e se falaram muito pouco. Embora Liana se mostrasse atenciosa, Diana estava com a testa franzida e com o olhar perdido enquanto conversavam. Cláudio levou cachorro-quente para as duas e depois da dança da quadrilha, encostou ao lado da barraca. Todo o dinheiro da festa estava em uma caixa de ferro com cadeado, guardada na barraca das meninas e Cláudio foi designado como “segurança”.

O coordenador achou melhor entregar o dinheiro ao líder da colônia naquele mesmo dia, ao final da festa.

Já eram umas 23h quando vimos Diana transtornada conversando com uma colega de turma que a segurava pelo braço e tentava, inutilmente, disfarçar a situação que ali se formava.

Perguntávamos uns aos outros sobre o que estava acontecendo e, de repente, vimos Diana saindo correndo em direção à rua e entrando em um carro que saiu rapidamente.

Ficamos todos em silêncio e, quando passou o torpor, perguntamos por Liana. Onde estava?

Liana tinha ido com Cláudio à colônia para levar o dinheiro da festa. Liana não se despediu de Diana. Todos começavam a entender o que tinha acontecido e alguns foram atrás de Diana para saber como terminaria esta história.

Soube que Diana procurou Liana por toda a noite. Soube que Liana foi vista aos beijos com Cláudio na colônia de pescadores. Soube que Diana não viu, mas soube...

Na semana seguinte, Diana não estava sentada ao lado de Liana tomando sol em um dia frio de inverno, no pátio do colégio. Diana não foi ao colégio naquela semana. Liana ficava em silêncio e sozinha, se afastava de todos e quase não prestou atenção às aulas. Liana não foi à aula de ginástica rítmica naquela semana. Cláudio continuou treinando, indo à cantina após o treino e quase não sorria.

Na sexta-feira, Liana e Cláudio se encontraram na saída do colégio e ficaram horas conversando sentados na calçada em frente à escola. Quando se despediram, não houve beijo, só um forte abraço que demorou um tempo significativo.

O final de semana foi uma angústia, uma eternidade e uma incógnita para os fofoqueiros de plantão. No início da semana seguinte, Diana chegou cedo e sentou-se no fim da sala de aula. Liana chegou uns dez minutos depois e sentou-se à sua frente. Não trocaram nenhuma palavra... No intervalo, seguiram separadamente para o pátio e se sentaram lado a lado no banquinho para tomar sol. Liana fechou os olhos e virou o rosto em direção ao sol. Diana recostou-se em seu ombro e ficaram ali até o final do recreio...

Daniela Pucu
Enviado por Daniela Pucu em 23/01/2018
Código do texto: T6234357
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