A GENTE É POETA DESDE CRIANCINHA
Tânia De Oliveira




Acho que todo mundo tem um dia que tem motivo para está bem triste. Tive uma porção destes como também de muitas alegrias, quando ainda era criancinha.
Mas só não me lembro qual daqueles dias havia sido o mais triste: se foi no dia que por causa de meu fuxico, o meu irmão Tonho levou uma danada de uma pisa, ou se foi no dia que o meu gato comeu o passarinho que eu mais amava.
Bom, mas no dia da morte do meu passarinho "Garrote" foi por demais triste... Mas muito triste mesmo, que não dava para aliviar contando pra minha amiga Merinha, nem Yone, nem Clelinha, nem pra minha prima Telma, nem pra Madrinha Alvina.
Estava chovendo muito e minha alma chorava desolada acompanhando a chuva. Para completar, os fundos da casa do Zé Cavaquinho era colado com os fundos do nosso quintal e ele estava tocando.
Foi nesse panorama (nunca esqueci), que me apertei entre o muro e a cerca, encostei-me chorando e fiquei apreciando as belezas de flores que saiam magicamente do Pé de Mandacaru. Aquilo era um presente. Recebendo a chuva fina, a música, acompanhada ainda de umas luminárias de um resto de sol junto à tristeza que a morte trás...inspirei-me e fiz (talvez)a minha primeira Poesia :


Oh, que linda tu és , flor de Mandacaru
Mais linda que minha boneca Susi
Mais linda que o céu azul
Só não és mais linda que Nossa Senhora
Fora ela, nada é mais bela que tu!
Mamãe disse que tu és venenosa
Pura sorte tua, Flor de Mandacaru
Senão eu te colheria, pra enfeitar
A cova de meu passarinho, lindo como tu!

Depois chorei, chorei... Mas, como o tempo resolve quase tudo, o cavaquinho parou de tocar, minha posição encostada começou a incomodar, a chuva aumentou e eu desci desconsolada.
Mamãe e Papai no armazém, a cozinheira entretida, pequei minha sombrinha e subi pra ajudar as Freiras a fazer hóstia. Contei tudo pra freira Irmã Emília, que me consolou: desapegue, aprenda que a morte irá lhe acompanhar durante toda sua vida. Faz parte da gente e de todo ser que é vivo... Ela é muito misteriosa mas faz parte... entenda!
E nem assim eu me consolei... com a morte... como nunca consegui entender, até hoje esse seu mistério!


Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 23/01/2018
Reeditado em 23/01/2018
Código do texto: T6234132
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