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Um macaco em Brasília




Januário mudou se para Brasília com a mulher e os dois filhos. Era um homem mal – humorado, mas cheio de valores e bastante equilibrado. Vivia para a família e o trabalho. Seu único vício era a bebida, de vez em quando. Sua paixão era o cachorro Bob. Não gostava de gatos, mas, por causa dos filhos, tinha que conviver com “Mingau”, o gato da casa, um "folgado" em sua visão, que vivia esparramado no sofá, sem utilidade alguma, não servia nem para fazer macumba, pois era branco como neve.

Sua aversão ao gato piorava ainda mais devido ao fato que, quando chegava bêbado, tinha que disputar com ele o sofá da sala, nas vezes que sua mulher o colocava para dormir fora do quarto.

Um dia, apareceu no quintal da casa um casal de macacos. Januário, ligou logo para o órgão ambiental  vir buscá-los. Enquanto aguardava, a história se espalhou e em minutos a notícia já estava nas redes sociais, a imprensa já queria até entrevistá-lo.

Quando o órgão ambiental chegou constatou-se que a macaca estava grávida. Todos caíram de amor por ela. Januário não entendia aquela imbecilidade toda, desde que o mundo é mundo as macacas têm filhotes, achava a geração atual sem futuro e idiota. Mas, logo iam levar os bichos e aquela besteira toda ia acabar. Porém, para sua surpresa disseram que ele iria ficar com os macacos, pois eles estavam adaptados àquele ambiente.

Ele argumentou que o problema não era os macacos estarem adaptados, e sim que ele não estava adaptado a criar macacos. Não adiantou reclamar, até sua mulher já tinha dito que iam ficar com os macacos e com a mulher era perdido discutir, era como dá murro em faca sem ponta, não fura, mas machuca.

Os dias se passaram, e Bob, seu amado cachorro, mantinha os macacos fora da casa, assim, ele nem notava a presença deles. Dias depois, a família começou a sentir que alguém estava roubando a comida da cozinha. Para descobrir o larápio, Januário instalou câmeras de segurança na  casa.

Ao verificar as filmagens ficou boquiaberto. Viu os macacos pegando comida e levando para fora da casa. Enquanto isso, o cachorro nada fazia, ficava deitado como se nada estivesse acontecendo. Por outro lado, o gato se agitava, gritava, corria, cutucava o cachorro, tentava pegar a comida de volta e não era atendido.

Depois, os macacos dividiam a comida com o cachorro, que ficava com mais da metade de tudo que era roubado, o que fazia com que os macacos roubassem cada vez mais.

Januário não podia acreditar naquilo que estava vendo. Brasília não era um bom lugar para criar filhos, até seu cachorro estava corrompido. Precisava sair dali.

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Nasceram dois macaquinhos saudáveis e gordos que seguiam os passos dos pais. O cachorro continuava como vigia da casa. O gato se deu por vencido e  só ficava deitado no sofá vendo novela. Os vizinhos, a imprensa e o órgão ambiental não se interessavam mais pelos macacos, pois um evento interessante estava acontecendo no Nordeste: o sertão tinha virado mar e a roda grande estava entrando na roda pequena. Só podia ser o fim do mundo!