SÃO SÃO PAULO – INFERNO E PARAISO

Tu és um grande mundo e um mundo grande! O seu verde se mistura com o cinza do seu asfalto e o teu azul se confunde com os aranhas céus e o colorido da sua poluição. Nas tuas ruas o vai e vem de pessoas e carros é como se fosse uma trilha itinerante com um frenesi constante e multiforme. Sobre seus viadutos enquanto os pneus dos veículos dão o som de uma música barulhenta, sob eles há um condomínio de anônimos que outrora tinham nomes, mas o desemprego, os vícios, as questões sociais e as circunstâncias os transformaram em invisíveis que dividem os espaços com os cães abandonados pelos seus ou que nasceram na perdidão das ruas e esquinas periféricas.

Tu és a gastronomia do mundo inteiro com as suas mais variedades de gostos e opções, mas que também leva fome àqueles que não têm opção alguma! Aqui a natureza trava uma luta insana com o progresso, onde no passado tu foste chamada a terra da garoa, mas que hoje se transformou na metrópole cidade das enchentes, das quedas de árvores, dos semáforos queimados. Seus edifícios gigantes, suas grandes avenidas, suas praças, suas vielas, a kracolândia e favelas dividem e contrastam o cenário com: as suas belezas e feiuras; com o caso e o descaso; com o amor e o ódio; com o progresso e o retrocesso; com o erudito e o chulo; com o estrangeiro e o nativo; com a alegria e a tristeza; com a dúvida e a certeza;

Tu és uma cidade multipolarizada que denota um aspecto bipolar no seu dia a dia. É agitada, fogosa e abrutalhada, mas que às vezes se torna plácida, sossegada e dócil. És uma mãe quando abres os braços e acolhes a todos a todos! Mas uma madrasta quando apertas os braços e sufoca a todos.

Tenho saudades daquela época em que os trilhos dos bondes cruzavam as suas ruas e avenidas, às vezes asfaltadas e às vezes ainda com areias. Hoje tudo mudou de lá pra cá. As coisas sempre acontecem não só quando cruzo a Ipiranga com a Avenida São João, mas em cada canto e em cada esquina do seu vasto território quando eu rondo a cidade na procura de alguma ou nenhuma coisa! Nem todos moram, no bairro do Jaçanã, mas ainda existem as suas grandes malocas. Não temos mais o lampião de gás e nem o rio Saracura, mas ainda temos o Pinheiros, Tamanduateí, Tietê.

Já te chamaram de muralha, Planalto do Piratininga, Paulicéia Desvairada! Um paraiso para uns e um inferno para outros! MasSão Paulo é o seu nome pungente, imponente, marcante, com seus manos e minas, seus monumentose suas ruinas. Tu és muito mais do que simplesmente São Paulo: Tu és São São Paulo como o poeta baiano lhe acarinhou.

SAMPA, FELI ANIVERSÁRIO