Da Bahia ao poeta irreverente

     1. Os egípsios, os gregos e os romanos, contam os livros, homenageavam seus filhos ilustres lhes erguendo estátuas em logradouros públicos.
     2. Os países da Europa, da América latina e as cidades norte-americanas que visitei, seguiram o exemplo egípsio-greco-romano: estátuas, lembrando seus maiores, estão em suas praças; e o mais importante, e que elas são religiosamente respeitadas por seus conterrâneos. 
     3. Não diria o mesmo do Brasil. Estamos lembrados de que a estátua de Carlos Drummond de Andrade, um destaque na praia de Copacabana, foi, várias vezes, mutilada.      
     4. Vândalos roubaram-lhe os óculos num condenável desrespeito à memória do poeta e ao Rio de Janeiro, que ele, embora mineiro, tanto amou; e disse isso em prosa e versos magnífico e que ficaram...  
     5.  Em Fortaleza, a estátua de Rachel de Queiroz, erguida na Praça dos Leões (Praça General Tibúrcio) foi, também, desrespeitada por cearenses mal-educados.
     6. Mal-educados, sim, pois, não é de se acreditar que alencarinos, por menos cultos, não conheçam a autora de "O Quinze". Aproveito para dizer, mais uma vez, que a estátua da Rachel estaria mais bem colocada na Praça do Ferreira, o coração da sua cidade.
     7. Em Salvador, sujeitos ousados não hesitaram em mutilar a estátua de Vinicius de Moraes erguida na pracinha onde ele morou, na famosa e bela praia de Itapuã, cujas tardes, foram cantadas pelo poetinha. 
     8. Vale ressaltar que,  até hoje, não se tocou, nem de leve, na estátua de Zumbi dos Palmares erguida no Centro Histórico de Salvador. Que ela continue longe da ação dos vândalos. Com as bênçãos ds Orixás.
     9. Insisto em mostrar a dilapidação criminosa das estátuas citadas, no momento em que a Prefeitura de Salvador acaba de inaugurar uma estátua do irreverente poeta Gregório de Matos. Uma justa homenagem e que chega com algum atraso. 
     10. O local escolhido é uma dos mais belos da capital baiana. Gregório será vizinho de Castro Alves, ambos olhando para a encantadora Baia de Todos os Santos. Estão os dois na "praça Castro Alves, a praça do povo", como disse Caetano Veloso em uma de suas bonitas músicas carnavalescas.
     11. Gregório de Matos Guerra nasceu no dia 23 de dezembro de 1636, na Capitania da Bhaia (Salvador); e morreu no dia 26 de novembro de 1696, na Capitania de Pernambuco (Recife).
     12. Acabo de ler, da escritora cearense Ana Miranda,  "Musa praguejadora - A vida de Gregório de Matos", uma robusta e interessantíssima biografia desse poeta, cujos versos, mordazes e ácidos, teriam incomodado os poderosos do século XVII e de séculos seguintes.
     13. A certa altura, escreveu Ana Miranda: "A POESIA DE GREGÓRIO DE MATOS não desapareceu após sua morte. O povo da Bahia o manteve pulsante, declamando seus veros, relembrando sua existência, repetindo seu comportamento, anotando poesias, guardando originais velhos". Diz a escritora com a esperada ênfase: "Na Bahia ele sempre esteve vivo".
     13. Erguida a estátua, cabe aos baianos e em particular aos soteropolitanos zelar por ela e acima de tudo respeitá-la. É um privilégio ser a BoaTerra a terra-mãe do Boca do Inferno, alcunha de Gregório, cuja obra - prosa e poesia -, é zombeteira, mas de inquestionável valor literário.
        
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/01/2018
Reeditado em 07/02/2018
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