Solilóquio | Yellow Ledbetter Já Parou de Tocar...
Sob a meia luz amarelada que rompia a sala obscurecida, típica de filmes de terror, mas não se tratava de seres fantasmagóricos, cabeças torcidas ou bonecas falantes. Era um lar masculino mesmo. No sofá, entre as roupas recolhidas do varal e camisas usadas na semana, um homem meditava ao som de "Yellow Ledbetter". Um cigarro no canto da boca, um copo americano parcialmente cheio de café morno, ao lado, uma tigelinha dos vingadores cheinha de amendoins japoneses...
O repouso da meditação se perdia no sarandeio das cortinas compassadas pelo vento, a janela esquecida aberta convidava a visitante da madrugada, uma brisa gentil, anunciava a chuvinha de verão. Então, as águas consumadas pela secura do chão vermelho, exalavam o perfume de terra molhada, gotinhas tranquilas, chuvinha mansa de verão pela madrugada.
Com toda a digníssima regência do tempo e da natureza, lá dentro, o homem ainda conjecturava com os próprios pensamentos e debatia inconscientemente, eram anjos e demônios em um concílio moral sobre os próximos passos e os antigos também. Vestido somente de cueca preta e meia soquete branca, Luís fumava o último cigarro, os lampejos e trovoadas clareavam o rosto fino e olhar carregado do filósofo boêmio. O olhar, uma confusão de amor e ódio, saudades e desamor.
- Vadia. Ele dispara bem baixinho, quase como um segredo.
Localizou o smartphone próximo ao notebook, não se moveu do sofá, apenas ergueu a sobrancelha esquerda, estupidamente grossa e escura, o que a deixava atraente. “Yellow Ledbetter” já parou de tocar...