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Honestidade
 
Há uns 15 anos, os candidatos ao cargo de delegado num concurso público foram submetidos ao seguinte questionamento: você já roubou ou furtou alguma coisa? A maioria, creio eu,  respondeu que não. Mais à frente tinha outra pergunta que dizia: você já se utilizou de um orelhão cheio de fichas para fazer ligação sem pagar?

Bem, o objetivo era fazer o candidato se contradizer e ao mesmo tempo entender que o roubo ou furto, mesmo que indireto, não deixa de ser errado. Estou falando disso porque vejo uma sociedade estarrecida com a atitude desonesta dos  políticos, mas que não se auto analisa para ter coerência entre o discurso e a prática.

Grande parte da sociedade acha normal desviar energia através dos chamados "gatos", não devolver o troco passado errado, e  tantas outras situações de aproveitamentos que se vê por aí. Enfim, são pequenos detalhes que fazem a diferença.

 
Não duvido que muitos que criticam certos privilégios, intimamente, estão loucos para tê-los. Há uns dois anos escrevi um texto, publiquei - o numa rede social, em que criticava a pensão paga às filhas solteiras de militares, um resquício ridículo de uma época que as mulheres precisavam de pensão quando não se casavam. Daí, muita gente disse que não era ilegal e que elas estavam certas em aproveitar essa "brechinha". De fato não é ilegal.
 
O problema que nem tudo que é legal é moral. Sou contra o auxilio moradia dos juízes, não é por falta de merecimento, devem ganhar muitíssimo bem, sei o quanto é exaustivo e solitário o trabalho de um magistrado, o problema está na forma em que se baseou para estipulá-lo e  como vem se mantendo através de liminar. Pode até ser legal, mas não necessariamente é moral. Os juízes estão errados em recebê-lo? Não, o erro está em não se julgar se é constitucional ou não.
 
Já me disseram que Deus reside nos detalhes, eu diria que a honestidade também reside nos detalhes e não nos discursos. Tem professor que recebe por 40 horas e dá 20;  gente que recebe sem ir ao trabalho; outros, que tiram licença saúde para não trabalhar no serviço público, mas, vão para o emprego privado. Doença é seletiva? Imagino que não. Político comprar votos é crime e eleitor vender, não é? Usar o poder político e econômico para angariar votos é crime e o poder religioso, não é? Não existe corrupção de mão única, tem sempre um corruptor e um corrompido.
 
São tantas as situações que não caberiam nesse texto. Recentemente, uma carreta tombou na cidade de Picos, saquearam a carga de sabonetes em instantes. No dia seguinte, alguém ainda teve a audácia de postar na internet que estava vendendo os sabonetes. A Caixa Econômica vive sendo saqueada há anos, assim como todos os órgãos públicos nesse país, à mercê de políticos inescrupulosos.
 
Infelizmente, honestidade deve vir de berço, se não mudarmos a concepção de honestidade das futuras gerações, não teremos melhores políticos e gestores públicos no futuro, pois eles não são gestados no céu ou no inferno. Não adianta mudar o teto quando a base é podre.