Um pouco mais de tempo

Sexta-feira, 19h.

Cláudio queria ir pra casa, tomar um banho demorado, comer uma comida quente, tomar uma cerveja gelada e sentar na frente da tv.

Jô se arrumava no seu quarto, nem ia banhar pra ganhar tempo na corrida pro ponto do ônibus.

Cláudio assinou o ponto, pegou sua mochila, acendeu um cigarro e saiu da guarita.

Jô terminou de pôr pra congelar o jantar dos patrões, correu pra porta, apagou a luz e saiu.

No ponto de ônibus, os dois ali estavam. Não se conheciam, ele perguntou a hora pra ela, ela lhe respondeu.

Ela perguntou se ele já estava ali a muito tempo, ele disse que acabara de chegar.

O ônibus encostou, eles entraram.

Se sentaram um ao lado do outro. Ele tentou cochilar e ela pôs um fone no ouvido.

Passado três paradas à frente, um assaltante entrou.

Roubou todos os pertences que pôde e bateu no cobrador, Jô se desesperou e gritou o assaltante disparou a arma contra ela e sem pensar em nada Cláudio entrou na frente de Jô.

Dali o assaltante fugiu, Jô socorreu Cláudio. Pro hospital ele foi e lá Cláudio faleceu.

Cinco anos depois, de pé em frente à lápide de Cláudio, Jô ora e põe flores, revivendo aquele fato todo ano.

Pensando no tempo de vida que Cláudio lhe proporcionou em troca da dele, mesmo de ímpeto. Jô quis retribuir.

Ela mudou de dentro pra fora.

Voltou a estudar, conquistou uma profissão, fez todas as viagens curtas e longas que pôde pagar, se aproximou mais da família dela e ficou amiga da de Cláudio, conheceu sua história de vida e realizou pelo menos 2 sonhos de Cláudio. Conhecer o Cristo Redentor e ser enfermeiro.

Se tornou ansiosa, dentro das suas limitações e traumas se dizia feliz.

Às vezes, acontece. Veja bem. Às vezes.

A gente perde pra ganhar.Uma vida se foi.

O louvável é saber dar valor nesse tempo estendido.

Milhares de histórias como essa estão por aí.

Tragédias, perdas, recomeço....

A vida minha gente é curta demais.