Mundo Invisível.
Era um início de semana qualquer, e, como todo início de semana, aquele era mais um que se arrastava preguiçosamente. E lá estava este poeta cronista, desajeitado em um ônibus lotado, em plena terça-feira preguiçosa, tentando me equilibrar no corredor lotado do ônibus, eram trabalhadores e trabalhadoras, espremendo-se e acotovelando-se, desejosos em chegar logo ao seu destino de todos os dias.
O ônibus saiu do meu bairro rumo ao centro da cidade com um pouco de atraso, a maioria das pessoas que ali se encontravam, com exceção de mim e de outro senhor, eram todas de trabalhadoras, digo isso por ser a maioria de mulheres, guerreiras do dia a dia, funcionárias das inúmeras lojas que têm no centro da minha cidade. Eu estava a caminho do centro também, teria que ir ao escritório do meu advogado para resolver algumas pendências do meu processo trabalhista. Embora eu tenha carro, eu gosto de andar de ônibus, gosto de ouvir as conversas das pessoas, de ouvir suas histórias, de interagir com esses personagens deste mundo invisível. Muitos de meus colegas me acham completamente louco, não é para menos, deixar o carro na garagem para andar em um ônibus extremamente lotado, é mesmo coisa de maluco, mas eu gosto, a maioria das minhas crônicas é o reflexos dessas andanças aqui e acolá, e nelas retrato um pouco da história dessas personagens do nosso dia a dia.
E lá estava aquele senhor, mencionado no começo dessa crônica, uns dos poucos que conversavam naquela manhã preguiçosa, esse senhor, uma figura muitíssimo conhecida no meu bairro; um autêntico caipira eu diria. Ele sempre está acompanhado de sua velha enxada e seu chapéu de aba amassada; é isso mesmo que vocês leram, uma enxada, que segundo esse senhor era o seu instrumento de trabalho. Perdoe-me os leitores, mas não me recordo do nome desse senhor, sei apenas que onde você o encontra, seja a pé ou de ônibus, a sua velha enxada já gasta no meio do fio de corte, está sempre presente. Este senhor, segundo ele mesmo disse, trabalha limpando terrenos pela cidade. Outro companheiro seu, inseparável por sinal, é o seu celular, modelo antigo, nele aquele senhor gravou inúmeras músicas caipiras raízes, músicas da antiga. Conversar com este senhor sexagenário é maravilhoso, ele sempre tem histórias boas e divertidas para contar, seu sotaque meio mineiro, meio paulista, é uma delícia de se ouvir.
Já no centro da cidade, ele desceu no mesmo ponto que eu, mas fomos em direções contrárias, ele, como sempre fazia, colocou sua enxada nos ombros, ajeitou o chapéu, ligou o celular em uma música do Tônico e Tinoco, e seguiu caminho, sempre alegre, acenando para todos. Esse senhor é mais um personagem deste mundo invisível, mais uma dessas pessoas maravilhosas que deixa o nosso dia mais feliz.
Outra coisa interessante que me chamou a atenção neste senhor, é o fato dele, assim como sua ferramenta de trabalho, a enxada já gasta, onde quer que você os encontre, sempre estão limpissimos, sem uma marquinha de terra, ou ele é extremamente cuidadoso, ou, é um excelente contador de histórias, bom... Seja lá como for, quem o conhece, logo descobre na simplicidade desse magnífico ser humano, o quanto o ser humano pode ser encantador e magnífico em toda sua simplicidade.
São apenas lembranças, vagando na memória, neste vigésimo primeiro dia de 2018. O beija-flor, aquele mesmo de outrora, está sempre presente, quando não está por perto, e ausenta-se, quando se aproxima de mim, terrível contradição.
Quando todas as vozes se calam,
Quando a luz se torna em escuridão,
As estrelas somem do céu,
E a vida aos poucos perde a razão.
Quando tudo enfim é silêncio,
Quando nada tem explicação,
Tua alma chora em desespero,
E a angústia toma o coração.
Teus olhos presos ao chão,
Problemas sem solução,
Horizontes sem saída,
Tudo entra em contradição.
Até que se rompa o silêncio,
Rompe a angústia desfaz solidão,
Nos olhos lágrimas enxutas,
De um insano amor sem perdão.