Se o sonho fosse verdade
26/10/06
Se o sonho fosse verdade
Na casa onde morava, havia uma portinha no telhado. Esta portinhola era a razão da fantasia de muitas crianças.
Havia uma menina que vivia planejando mil maneiras de entrar naquele sótão. Todos os seus irmãos diziam que já tinham entrado e era medonho, deixando-a mais curiosa e atiçada, mas o medo de cair sempre a impedia de lá subir.
Mudou-se para um apartamento, ficando assim a saudade de algo importante não realizado.
Em seu desvario, sempre sonha com aquela porta, como se ela fosse uma casinha de boneca com todos os seus compartimentos: banheiro, sala, dormitório. Ou quem sabe, um refúgio para ouvir e dançar ao som das mais belas canções de ninar e também para brincar com as outras amiguinhas?
Anos mais tarde, descobriu que a porta era a entrada para um quartinho de despejo de troços que foram devidamente separados com destinos diferentes: uns eram para serem guardados em caso de necessidade, outros para serem vendidos ou reciclados.
Mas com o passar do tempo, foram se desgastando, virando pó, sem serventia para ninguém.
E se o sonho fosse verdade?
Em cada janela ou portinha que olha do seu apartamento, retornando à idade de sua infância, imagina o que estaria por detrás de cada porta. Pensa em espionar pelo binóculo, mas logo se desfaz do desejo, porque estaria cometendo um crime contra a privacidade alheia. Se ainda fosse criança, não teria essa consciência, seria livre para ir a qualquer lugar e olhar tudo sem discriminação.
XXII Concurso Internacional Literário
7º Lugar
Adriana Quezado