A MENINA E O VELHO
Aquele velhinho de estatura baixa, todo franzino, era um terror para mim. Isso era o que eu sentia, segundo o meu entendimento (ou fantasia). Corcunda, ele andava bem devagar com um pedaço de pau na mão e um saco de estopa cheio de roupas e uma porção de objetos.
Eu era pequena, tinha somente 3 ou 4 anos e tremia de medo quando, pela janela da casa, via o pobre velho passar na rua. O pavor era tanto que uma dia aceitei entregar facilmente e definitivamente a chupeta para a minha mãe, só porque tinha ouvido alguém falar: "o velhinho vai entrar aqui no quarto no meio da noite para pegar a chupeta". Ah, eu me arrepiei toda nessa hora, foi uma reação incontrolável, afinal tratava-se de uma criança...
Hoje, passado tanto tempo, penso naquele pobre homem e imagino como devia ser difícil a vida que levava. Na verdade, ele jamais fez nada para aterrorizar a menina que eu fui, uma garota de tranças longas que só queria brincar e que nada conhecia da vida. Tudo o que ele fez em termos de 'maldade' foi apenas fruto da minha própria imaginação...
(Glaucia R Lira)