TEMPOS INCERTOS

Em certa altura do campeonato da vida, admitimos ter perdido alguns dos nossos ídolos. Mesmo quando este pensamento possa parecer adolescente, ele é fato e nos machuca um pouco. É que não gostamos de perder nada que nos dá prazer. Quando morre um artista da nossa preferência, significa um prazer a menos. Aqui no recanto também temos nossos preferidos. Já tive a infelicidade de perder alguns, mas ainda tenho muitos de grande importância, graças a Deus. Hoje mesmo é aniversário de Djanira Luz, uma das autoras brilhantes, cujas letras cativantes sempre deixam saudades. Espero que ela esteja bastante ocupada com a tarefa de ser feliz.

Mas como ia dizendo, a vida, o tempo, nada para. Nossos desejos também não. Amadurecer passa por suas exigências. Cada vez exigimos mais dos outros, como se tudo que oferecemos ao próximo estivesse de bom tamanho e qualidade. Engordamos nossas convicções como se elas fossem perfeitas. Nossa capacidade de manter pensamentos defeituosos firmes é surpreendente. Ninguém está livre desta manobra que freia nosso cérebro, mesmo quando ele deseja seguir em frente, isento a tantas armadilhas. E o pior é a facilidade com a qual tudo é propagado e seguido. Como se a vida fosse uma estrada em que se tivesse que tomar partido o tempo todo. Mas como seria essa coisa de se adequar a todo tempo de um ou outro pensamento?

Não funciona. Por isso não confio em padrões muito impecáveis ou muito comportadinhos. Muita coisa mudou. E tem sempre uma cobrinha pronta para dar o bote mesmo na zona urbana. Tem até jacarés passeando por certas varandas. São tempos de andar com olhos e ouvidos abertos. Sem dúvida alguma, são tempos incertos.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 18/01/2018
Reeditado em 26/01/2018
Código do texto: T6229829
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