Mind the gap (Cuidado com o vão)
É absurdo o crescimento de comunidades de baixa renda ao longo da Linha Amarela, em Guadalupe, em Cordovil, em certos trechos da Avenida Brasil, da Linha Vermelha, até em parte de Copacabana – e por que não dizer, por toda a cidade? Em cada ponto do Rio há um ponto de favelização em expansão. Na Barra/Recreio temos o Terreirão. Na Ilha, vários pontos de fácil identificação. Bairros mais afastados ao longo da antiga Central, como Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, estão cada vez mais tomados por pessoas que se perfilam entre os chamados cidadãos de quarta ou quinta categoria – os invisíveis.
Parte dos quais se tornam visíveis quando têm acesso a uma arma.
É absurdo o crescimento da violência na cidade, com diversos tipos de assassinatos, inclusive de policiais, que se multiplicam diariamente por nossos bairros e também pelo Estado. O que parece decorrer, ainda que possa haver sociólogos que digam o contrário, do alastramento da pobreza ou de condições próximas da mínima possibilidade de existência.
Trata-se de uma mancha que pouco a pouco vai cobrindo todo o território do Rio e obviamente não vai escoar por suas águas em direção ao mar. Mar que já está coberto por diferentes tipos de plástico que servem de alimento aos peixes, que comemos imaginando que fazem menos mal, ou são menos cancerosos, que a carne vermelha.
Como será em 2070? Quem nasce hoje chega lá fácil. O que se pode dizer pela medicina. E pelas CNTP?
Nada de nos atemorizarmos. Até porque não tem outro jeito, pelo menos a princípio. E até porque há solução. Mas, como é óbvio, qualquer solução que se possa imaginar não poderá deixar de contemplar a redução das diferenças sociais, do imenso “gap” (“mind the gap”, do Metrô) entre os que têm muito ou alguma coisa e os que pouco ou nada têm. Devendo estar incluída a educação na necessidade de as riquezas serem melhor compartilhadas. Para que as pessoas possam, enxergando melhor, eleger seus objetivos. Que não vão deixar de ser o Carnaval e o futebol – nada contra, não nos incluímos nessa heresia –, mas têm necessariamente que ser outros.
Não precisamos ter, assim de repente, a escola do Auggie, do filme “Extraordinário”, com um armário pra cada aluno, um espaçoso local específico para aula de Ciências, um amplo auditório com poltronas acolchoadas, etc. Mas temos de ter condições de habilitar os menores a se tornarem cidadãos capazes de compreender a comunidade em que vivem, conscientes de seus direitos, mas também de seus deveres em relação ao que todos devemos almejar.
Rio, 170118