RESPOSTA DA PREFEITURA AO MEU PEDIDO DE APOIO CULTURAL

Demorei tentando encontrar o jeito de falar sobre isso, temendo ser desrespeitosa, mas o que exponho aqui, o que posso chamar de desabafo, é uma vivência da manhã de hoje, no Gabinete do Prefeito de Caucaia, que se eu não escrever é capaz de não dormir.

Algumas pessoas que me conhecem sabem do meu projeto de publicar meu segundo livro, Ciclos, no qual proponho reflexões sobre o ciclo vida e morte, numa narrativa que conta uma história de amor que ficou para “depois”, por conta de um trágico acidente de moto.

Produzido em meio à dor da despedida, o livro é uma espécie de recorte do que vivemos, com a transcrição de e-mail, mensagens virtuais e cartas, além de relatos do que experimentei nos dias que se seguiram àquela triste notícia.

Acontece que a publicação de um livro, quando se trata de autores desconhecidos, como eu, não é simples. As editoras não têm interesse. E tem um detalhe: há mais editoras do que leitores, então ninguém quer se arriscar a publicar um desconhecido.

Nesse caso o jeito para escritores como eu é publicar de forma independente, ou seja, “edição do autor”. E neste tipo de publicação é o próprio autor quem cuida da comercialização e divulgação do seu livro, além, claro, de arcar com o custo junto à gráfica editora.

Então me dediquei durante alguns dias a preparar um projeto para submeter à Prefeitura, solicitando apoio cultural, já que não tenho dinheiro para o investimento na publicação do Ciclos, argumentando quanto ao seu papel no fomento à cultura e ao incentivo à produção escrita, promovendo a democratização do acesso à literatura.

Expliquei no projeto sobre meu interesse em contemplar o maior número de leitores da comunidade local (em especial Parque Potira), considerando que o homem que inspirou o livro era muito popular, e que para isso eu gostaria de disponibilizar o livro a preço acessível.

“Senhor Prefeito, cumprimentando-o respeitosamente, submeto para análise o pedido de apoio cultural para publicação do livro Ciclos, de minha autoria (proposta anexa)”.

Protocolei o pedido no setor competente e uma semana depois recebi uma ligação me orientando a comparecer no Gabinete do Prefeito para tratar do assunto. E assim o fiz, hoje pela manhã.

No local fui encaminhada a uma sala para falar com uma moça, que se apresentou como secretária da primeira dama. Pediu que eu me sentasse e falou meia dúzia de qualquer coisa, por fim colocando a mão dentro da bolsa, procurando algo em meio à desordem que parecia estar ali, e enquanto isso seguiu falando. Disse, entre outras coisas, que a ajuda dele podia parecer pouca, mas era o que ele podia dar, considerando que “ele gosta de ajudar e ajuda a muita gente”.

Eu não queria que aquilo estivesse acontecendo. Não queria acreditar que aquilo fosse possível. Mas me mantive serena, até que ela chegou na parte mais cruel daquela conversa:

- Ele mandou lhe dar duzentos reais.

Justificando a bondade do Prefeito, ela disse que a prefeitura não podia me atender, mas reforçou que os duzentos reais, pouco, segundo ela, poderiam ser úteis para ajudar.

Pedi desculpas, mas disse a ela que devia haver algum mal entendido. Eu não estava pedindo dinheiro. Jamais aceitaria qualquer valor do senhor Prefeito. Minha solicitação era de apoio cultural para a publicação de um livro.

- Olhe, não me leve a mal, nem entenda como orgulho, mas eu prefiro que ele guarde esse dinheiro para comprar exemplares quando eu lançar o livro!

Uma situação no mínimo desconfortável. Humilhante. Eu me senti ninguém. Pareceu-me que sequer meu projeto foi lido. E, se foi, pior ainda, vê-se que os assessores não entendem de livros, de cultura, de sonhos...

Não precisava eu ter ido até lá para passar por isso. Despreparo total dessa gente, pois bastava um e-mail me informando que não há verba pra esse tipo de apoio e pronto.

O dia inteiro eu fiquei “duzentos reais...”

Difícil de acreditar.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 17/01/2018
Código do texto: T6228301
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