O Pedreiro Poeta
 
 Às quatro horas da amanhã, inicia mecanicamente a sua rotina diária; levanta, caminha com passos vagarosos em direção ao banheiro joga água na cara para despertar. Banho, barba, dentes cabelos, ler um poema... Coloca a roupa, sua botina com proteção de aço e segue. Ás sete adentra na sua labuta do cotidiano, barro concreto, cimento, elevação, construindo estrofe em campo concreto de poesia.
 
Mescla ferragem com concreto Como quem mistura sonho com realidade. Pai, amigo, pedreiro que possui nas mãos calo versátil de flores. Mãos arquitetônicas, de veemente agricultor das tradições humanas, comprometido, e responsável, um enigmático amante poético, ou talvez quem soubéssemos primo da paixão? Não, afirmo que é escultor de palavras.
 
Abre aquele sorriso largo, num rosto estreito, uma ponte de ternura que interliga ao amor éctese. Acadêmico, Alano calmo, soberano e sereno, seus versos brotam na força eletromotriz de uma caneta, e tomam asas que se amalgamam em nuvens a encanta o lirismo do arcanjo, continua e sobrevoa o oceano das letras do mar sentimento. 
 
Ás dezesseis horas deixa a selva de concreto, aço, rocha e cimento. Segue o mesmo percurso de volta para casa. Quintal florido de plantas e idealismo, flores e espinho. Aguar e aduba cuidadosamente, trata, zela. Cai à noite de estrelas esparramadas por um inócuo chão de giz. Ajoelha e avidamente reza o ofício de Nossa senhora. Ler livros diversificados, costume dos sábios. Escrever poemas inspirados em fenômenos naturais.
 
Versos extraídos do sêmen da flor do mandacaru em sua alma apologica ao cangaço. São oníricos folhetins fragmentados no eu – lírico de Edézio Paixão. Agora transmutado na atilada realidade convertida numa floresta de palavra; A natureza e o amor. Ela nos conduz a uma excursão pelas trilhas do sentimento, razão e fé. Sua escultura natural em forma de letras em papel couchê fosco calandrados.
 
As quatro da manhã volta a se levantar, caminha com passos lentos em direção ao banheiro. Vai até a cuba vasilha. Joga água na cara para espantar o sono. Banho, barba, dentes, cabelos, ler um poema... Ás sete retoma a sua labuta diária. Ferro, areia, cimento, rochas de uma dura realidade. Alicerces de sua apoteótica missão diária. Lapidar na bruta rocha do destino um estilo concreto em sua forma imensurável de escrever. Sensibiliza a áurea dos mais brutos dos homens, e faz eclodir o universo do notável Pedreiro Poeta na selva de pedra que o cerca e sufoca. 
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 17/01/2018
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