É o bicho!
Com o resultado na mão, confere o último bilhete. Ainda não fora desta vez que tirara a sorte grande. A fé, porém, se mantinha inabalada. O dia chegaria cedo ou tarde. Acertar o milhar era a sua meta, nem que para isso tivesse que importunar toda a bicharada. Sua visita ao zoológico se tornara rotina. Observava tudo e todos, macaco, tigre, girafa, leão. Cada dia via em um, sua nova fonte de inspiração. Já acertara algumas vezes, nada de grande, mas o bastante para livrar algum do muito dinheiro aplicado ao longo de tantos anos no jogo do bicho. Já decidira que nunca desistiria, parte do seu salário já tinha destino certo. Mudara de estratégia algumas vezes, mas acabara voltando para os números de animais de sua preferência. Jogava no grupo, milhar, centena, dezena, no combinado, sabia de cabeça os números, da avestruz à vaca e de todas as combinações possíveis.
Sonhava um dia em “quebrar a banca”. Para isso usava qualquer artifício capaz de transformar-se em palpite. Punha muita fé nos sonhos, mas nem sempre conseguia interpretá-los, como aconteceu quando sonhara com um gato caindo de um muro. O palpite parecia certo: ”quatorze”
Jogo feito, deu burro na cabeça! Afinal queria que desse o quê com um gato caindo do muro? Tava na cara tinha que dar o que deu: “três”.
Outro noite sonhara com seu melhor amigo lhe devolvendo, aquela grana emprestada há algum tempo... Arriscara no “cinco” sem nenhuma dúvida, considerava seu amigo muito fiel. - Palpite errado! Deu o “vinte e dois” Começou a desconfiar que aquele companheiro fiel, na verdade era um autêntico “amigo da onça”...
Nunca se esquecera da vez, que avisado em sonhos por uma voz jogara três dias consecutivos, e ganhara todas... Na quarta noite lá estava novamente à mesma hora, a voz a lhe dizer os números certos.
Confiante jogou alto afinal não teria como errar, mas para o seu desalento, perdera tudo...
Mas tarde, ao dormir, ouve a mesma voz da noite anterior...
- Pergunta quem era ela, e arrasado ouve em resposta, o que já se era de se esperar, já bastante conhecida em um refrão de uma música popular bem antiga:
- Sua mãe fez você ganhar dinheiro, mas agora é alma da mãezinha do bicheiro!
Não conseguiu mais dormir, sentira-se tapeado, traído em sua confiança, pela manhã cedinho dirige-se a banca, decidido e joga tudo que conseguiu juntar no 25...
Bingo! Desta vez valeu a pena:
Vaca na cabeça!