A ARTE QUE FINGE...
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Fernando Pessoa considera o poeta um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Para Pablo Neruda, a poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do ser humano. Vive pertinho do céu quem vive num barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro. Mas morar lá! De resto, não apenas o poeta, mas todo artista. Flor do pântano “ressignifica” o pântano, verbo usado na psicologia, e na psicanálise, no sentido de dar novo significado a alguma coisa, de tornar patente alguma coisa latente. Ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão, o tédio transformado em melodia.
Dança inspira liberdade; balé, leveza do ser; ópera, grandiosidade. No palco, conforme Molière, a missão da comédia é representar em geral todos os defeitos do homem, em particular, dos homens de nosso tempo. No nosso caso, especialmente dos políticos. Riso que vira deboche. O humor é uma arma que pode corrigir o Brasil, segundo predição de Jô Soares.
A história do cristianismo é indissociável da arte sacra, nas catacumbas, na pintura, na escultura, no artesanato, na música, na literatura. Cidades históricas mineiras são bens culturais palpáveis de arte barroca, de arquitetura religiosa e de religiosidade arquitetônica, apontando para o céu. Mesquitas acompanham a história do islamismo; bem assim sinagogas, a história do judaísmo.
Cantando a gente manda a tristeza embora. O samba é o filho da dor. O grande poder transformador de Gil, Caetano, Cazuza. O tango e o fado também têm sua alegria triste. “Sul monti di pietra può nascere un fiore” canta Giani Morandi. Nas montanhas de pedra, por entre reentrâncias, ainda que espremido, nasce o verde, pode nascer uma flor. Perdas são transformadas em arte cinematográfica, num rito de passagem, numa linha imaginária.
A foto do garoto de nove anos vendo, do mar, a queima de fogos em Copacabana, na virada do ano, tem comportado diversas leituras.