O BUSTO DE GARIBALDI

Se eu olhasse para o lado direito , por entre a folhagem das árvores plantadas na praça Vidal Ramos , veria a Igreja Santo Antônio dos Anjos à sombra do morro com sua vistosa arquitetura. Mas como olhei para frente vi o busto de José Garibaldi, imponente como a igreja apesar de ser centenas de vezes menor em escala, mesmo estando os dois nas devidas proporções.

Seu semblante demonstra a seriedade dos heróis. Não esboça sorriso, mantém-se fixo num olhar controlado e sóbrio, como era comum em sua época onde os adultos dificilmente demonstravam seus sentimentos. Meu avô que também descendia de italianos nunca demonstrou discreto sorriso que fosse.

Garibaldi me olhava sisudo, cauteloso, perfil classe II. Permaneci com o olhar fixo no dele observando a fisionomia esculpida no bronze já opaco e sem brilho, aspecto comum para um trabalho em metal que fica ao sabor das intempéries naturais e que pode ser restituído facilmente com um rápido e adequado polimento pelas mãos de hábil artesão.

Descansa num pedestal em granito numa das laterais da praça Vidal Ramos. Seus olhos sem pupilas passeia num vagar distante, sem fixar o olhar em um ponto definido, como é comum a toda escultura que retrata apenas a forma e não a cor. Aparenta vislumbrar algo que só ele enxerga. O que ele vê?

Um bronze de praça é a fotografia em três dimensões da história que queremos guardar na memória do tempo.

As pessoas na correria do dia, insensíveis ao que não é de seu interesse mais imediato, passam indiferentes à frente do general. Não se importam, todas elas, o que ele tenha feito, quais suas conquistas, suas façanhas. O que levou a imortalizarem-no naquela imagem na praça matriz da Laguna. Para a grande parte dos transeuntes, diria eu para a grande maioria, não representa muito mais do que um dos muitos adereços espalhados pela cidade.

O que somos todos nós senão aquilo de bom que deixamos para a posteridade? Enquanto nosso corpo perecível degrada-se esquálido e inerte em cova rasa, esquecido para o mundo, são nossas lutas, nossos feitos que permanecem vivos para todo o sempre. No final das contas o que fizemos é o que sobrevive e não o que por ventura ajuntamos no passar dos anos.

E repito, o que somos somente nos serve enquanto estamos vivos. Para a história importa o que fizemos, o que deixamos.

Não seremos imortais, visto que viemos do pó e ao pó voltaremos pois é sabido que Deus salva nossas almas não nossos corpos, mas podemos nos tornar inesquecíveis e para isso dependemos das boas ou más escolhas que tomamos frente as adversidades que cruzaram nossos caminhos.

Virando para a direita caminhei lentamente em direção à igreja. Atravessei a rua , transpus sua grande porta da frente pensando que bustos em praças representam muito mais coisas do que podemos imaginar. Valem a reflexão.