VIL METAL. SHAKESPEARE. SOU O QUE PRETENDO.
Relendo Shakespeare e suas construções especiais.
Sou o quê?
“Essa é a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer?” Hamlet.
Só a morte do corpo vence a desdita. Nela talvez se encontra a harmonia e a paz tão procuradas pelo homem.
Ou outra porta? Com mais agonia.
“Morrer — dormir, nada mais; e dizer que pelo sono se findam as dores, como os mil abalos inerentes à carne — é a conclusão que devemos buscar. Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.”
Shakespeare, Hamlet.
Fazem cismar, destaca o poeta da dramaturgia humana icônica.
O cisma que divide e proporciona a dúvida, a dor. Caminha a vida entre as paredes abissais no "canyon" da incerteza mesmo no desenho do que o destino finda. No leito profundo está o desfiladeiro do segredo.
“Acredito, sim, que penses o que dizes agora; mas aquilo que decidimos, não raro violamos. O propósito não passa de servo da memória, de nascer violento mas fraca validade. E que agora, como fruta verde, à árvore se agarra, mas, quando amadurecida, despenca. Imprescindível é que nos esqueçamos de nos pagar a nós mesmos o que a nós é devido.”
Shakespeare, Hamlet.
Nada mais faz o homem do que violar o que construiu para viver em paz. A regra das regras, de ouro do sentimento, é o amor como respeito, para conviver em harmonia, congraçamento. O propósito é aleatório, ficção, "não passa de servo da memória", assim tem se verificado, mesmo assentado por vocábulos, em tratados e convenções, pela mera intenção humana.
“Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente. Ó deuses!, por que isso? O que é isso, ó deuses?
O ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores.
É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.” Shakespeare, "Timão de Atenas".
Cruel verdade,mas verdade intransponível, provada no correr dos tempos.
Um olhar em volta, um passeio mais longo, um correr pela humanidade na visão shakespeariana, o que vemos(?), “Ó DEUSES!”.
O comando embrutecido carregando o vil metal, sem medidas, açoitado o amor pelo vício, destroçado pelo egoísmo, atraiçoado pela avareza, mutilado pela usurpação. Negando a necessidade dos povos.
O “Ser Ou Não Ser” continua e continuará a definir caminhos,