VALE A PENA BRINCAR

Vale a pena brincar com o que dói, com o que desembesta, com o que enferruja.

Vale a pena brincar com nossas mágoas, nossas goteiras, nossos pecados.

Vale a pena brincar com quem nos traiu, nos encurralou, nos chicoteou. Vale a pena brincar com cada ferida, cada engasgo, cada susto.

Vale a pena brincar com nossas desilusões, nossas frustrações, nossos tropeções.

Vale a pena brincar quando dá vontade de chorar, de fugir, de matar.

Vale a pena brincar quando o tempo fecha, quando o vento castiga, quando o frio incorpora.

Vale a pena brincar na solidão, na prisão, no vazio.

Vale a pena brincar morrendo, partindo, remoendo.

Vale a pena brincar sempre que apertar, sempre que faltar, sempre que soterrar.

Vale a pena brincar com quem conhecemos, com quem desconhecemos, com quem nunca iremos conhecer.

Vale a pena brincar envelhecendo, perdoando, amando.

Vale a pena brincar no gosto ruim, no cheiro ruim, na cor ruim.

Vale a pena brincar com certeza, com dúvida, com o que for.

Vale a pena brincar quando brincar estiver banido, esquecido, enterrado para sempre.

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