Sobre a muiteza da vida
No filme Alice no País das Maravilhas, produzido em 2010, há um diálogo entre o Chapeleiro Maluco (Johnny Deep) e Alice (Mia Wasikowska) que à primeira vista nos parece sem grande importância. Entretanto, se lhe dermos a devida atenção percebemos que é bem interessante e, no mínimo, estimula a reflexão. Em determinado ponto da conversa o Chapeleiro diz, um tanto decepcionado, a sua interlocutora: “_ Você era muito mais. Você perdeu a sua muiteza...”.
Tal fala foi oportuna para eu me colocar no lugar dela e pensar em que eu era muito mais. Em que eu perdi a minha muiteza. Em que momento a perdi no decorrer e no desenrolar da vida e o porquê de perdê-la. E como pensamento pouco para mim é bobagem, fui mais além e refleti acerca do assunto numa dimensão mais abrangente. Coloquei-me como ser humano, sujeito participante e construtor de um processo sócio-histórico e fiz os mesmos questionamentos: em que a nossa sociedade deixou de ser muita? Em que momentos e porque perdemos a nossa muiteza? Que vantagens e prejuízos tivemos com a perda dela? Sim, porque temos que pensar que é importante que percamos alguma. Encontrei respostas múltiplas que deram origens a intermináveis novas perguntas! E entre as novas respostas constatei que nem tudo é decepção como na fala do Chapeleiro Maluco. Porque perdemos alguma muiteza, mas nem tudo está acabado! Podemos, com boa vontade, adquirir/construir/ganhar outra. Ou, sabe-se lá, outras!