Codó que eu amo
Era a 121ª primavera da cidade. Ano novo! Esperança renovada! Um novo tempo abraçava Codó que, dengosamente, deixava-se aquecer nesse abraço. Para comemorar, a proposta era deixar seu futuro falar do seu passado. Assim, os/as estudantes das escolas públicas municipais iriam mostrar como veem a Codó amada. Era o começo de um processo indescritível de motivação, mobilização e aprendizado sobre a aniversariante, um mergulho em sua história, seus costumes, seu imaginário, seus problemas...
Desenhos, poemas, memórias literárias e crônicas emprestaram um brilho adocicado a cada um dos/as 85 professores/as que trabalharam as oficinas com os/as futuros/as escritores/as. Foram três semanas de escritas, reescrita e “eu não vou fazer de novo não, professor/a” que certamente ajudou muito na interação, na aproximação do mestre e do aprendiz.
Desenhos, poemas, memórias literárias e crônicas também foram apanágio para descobertas e rememoração de fatos marcantes para a sociedade codoense e, sobretudo, para declarações à aniversariante, embaladas com votos sinceros de prosperidade. O universo da sala de aula foi lugar de despertar sonhos infantis e juvenis, mas também de desafio e superação para os estudantes adultos que, firmes, seguem enfeitando os bancos escolares.
E começaram a chegar imagens! Registros de um trabalho sério, desenvolvido por professores/as comprometidos/as. Que maravilha ver por essas “janelas” que tornam cristal os momentos bons! Nessas “janelas”, vimos, na Escola Rosângela Moura, a cumplicidade das árvores gentis cederem suas sombras macias a uma aula campal daqueles pequeninos, cujo brilho dos olhos, eufóricos de animação tornava o ensino mais prazeroso e eficiente.
Escolas da sede e do campo, mais de 25 ao todo, foram palcos de um intenso processo de investigação, de pesquisa, de vontade... Vontade de fazer a diferença! Vontade de alunos/as, professores/as e gestores/as, como o professor Zezinho, gestor do Polo Caeira, que veio com uma pasta cheia de sonhos e declarações dos/ alunos/as, mesmo acidentado nas necessárias idas e vindas no caminho da sagrada missão de ensinar. Ele não deixou os/as escritores/as sem entregar os textos. Infelizmente, os textos não foram considerados para fins de premiação, pois foram entregues fora do prazo final estabelecido.
E o tempo, esse implacável carrasco deixou as escolas: era chegada a hora de entregar os textos à SEMECTI. E vieram... muitos. Todos carregados de história e identidade, como o texto do aluno Denilson, de 11 anos, da comunidade Mata Virgem que desenhou o Estádio Municipal Renê Bayma sem nuca tê-lo visto, nem mesmo em fotografias. Como ele desenhou? Vocês perguntam certamente. Pela a fala do irmão mais velho e pelo a imersão nessas descrições que o irmão fizera, permitidas somente pela vontade... de fazer a diferença, de sonhar. Incrível, gratificante!
Foram mais de 200 textos, carregados de esperança, grande parte deles, a bem da verdade, pelos prêmios, mas também pelo prazer de participar, por saber que podem ter o mundo. Quem duvida, pessoal?! O mundo é de vocês!
Eita trabalheira para a Comissão! Em pouquíssimo tempo, tinha que avaliar com a lisura da justiça cada um daqueles textos. Quem dera se o tempo, esse malvado impiedoso, tivesse sido um Gentleman, permitindo que os textos do Polo Caeira, Centro dos Monteiros, por exemplo, chegasse à Comissão! Ah, prisão humana que apavora e desfaz os planos nossos!
Finalmente chegou o grande dia! No auditório da Escola Estevam Ângelo, pais orgulhosos de filhos/as ansiosos/as e professores/as cheios de certeza do dever cumprido eram o que estava faltando na decoração do ambiente. Aos poucos, figurinos caprichados e perfumes agradáveis enchiam o espaço para a nossa festa. Era a entrega dos prêmios. Expectativas geradas pela vontade... de fazer a diferença.
Veio o desengano... ilusões banhadas pelas lágrimas infantis dos pequeninos cuja pena, em traços finos, tortos e vacilantes, fizeram a Codó que amavam. Desengano embalado nas expressões dos jovens e adultos que ali, assentados na total razão, sentiam-se enraivecidos pelo o que não veio. Triste! A festa, a expectativa e alegria de todos ali foi cruelmente abafada pela morosidade burocrática dos processos licitatórios. Os prêmios não chegaram a todos e euforia de outrora, mesmo em protesto, cedeu lugar à frustração. Pena!
Ah, o tempo! “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, já dizia o poeta Augusto dos Anjos. O tempo, esse casmurro carrasco que freia e acelera o humano coração seguiu seu curso. Do alto de sua prepotência e valentia, levou-nos quase sete meses.
Ah, o tempo, ele que, nas palavras de Machado de Assis, “caleja a sensibilidade, e oblitera a memória das coisas” não foi capaz de suprimir as memórias desses dias. E seu afago veio hoje... para oferecer suas sinceras desculpas a todos, permitindo a chance de começar de novo. Vamos?