Os medos de Belchior

Sempre, lá em casa, fomos super fãs do Belchior. Meu irmão, mais velho, que já morava aqui em Fortaleza, comprava os LPs (discos de vinil) e mandava ou os levava quando ia de férias. Eu, de tanto ouvir as músicas dos álbuns “Coração Selvagem”-1977 e “Era uma vez um homem e seu tempo”-1979, sabia de cor quase todas, me arriscando a cantar ainda hoje aquelas que mais gosto.

A notícia de sua morte nos pegou de surpresa, foi um dia triste aquele 30 de abril de 2017. Penso que o seu recolhimento devia ter sido respeitado, pois como diz a música: todo artista tem que ir aonde o povo está, mas o povo não precisa ir onde está o artista, quando este opta pelo isolamento. Respeitemos a sua escolha! Fiquemos com as suas lindas canções a nos embalar!

Um fato interessante e freqüente em suas letras/canções, lapidadas de belas frases filosóficas, é a citação de palavras como medo, tristeza, sofrimento, perigo, morte, desespero, etc. E meu pai que também ouvia suas músicas, não com a mesma freqüência que nós, de tardezinha, quando chegava do trabalho após o banho dizia assim: coloque aí pra tocar na radiola as músicas daquele cantor medroso! Eita, homem medroso!!!! Mas é um excelente artista! Ríamos e ficávamos a ouvir as belas canções do nosso ídolo.

Para escrever esta crônica recorri a um desses sites onde verifiquei toda a discografia do Belchior para relembrar e colocar aqui pequenos trechos de algumas das músicas que ouvíamos e confirmar o que meu pai com o seu senso de humor falava a respeito de algumas das belíssimas canções/composições do Belchior.

1- Amigo eu me desesperava - A palo seco

2- Eu estou sofrendo com a solidão - Bebo por ela

3- Eu estou sempre em perigo - Brincando com a vida

4- É que nada acontece que alegre o meu coração - Clamor no deserto

5- Por isso cuidado meu bem há perigo na esquina - Como nossos pais

6- Talvez eu morra jovem - Coração selvagem

7- A ninguém revelarei o meu segredo - Doce mistério da vida

8- Quando eu não tinha o olhar lacrimoso - Galos noites e quintais

9- Foi por medo de avião - Medo de avião

10- Medo, medo, medo, medo, medo - Na hora do almoço

11- No apartamento, 8º andar, abro a vidraça e grito quando o carro passa - Paralelas

12- Eu tenho medo e medo está por fora - Pequeno mapa do tempo

13- Tenho medo de Populus meu Cão - Populus

14- Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro - Sujeito de sorte

15- A minha garota não me compreende e diz que desse jeito apresso o meu fim – Clamor no Deserto

16- É que só falta algum tempo para 1984, agora estou em paz, o que eu temia chegou – Clamor no Deserto

17- Eu tenho medo e já aconteceu! Eu tenho medo e ainda está por vir. Morre o meu medo isto não é segredo, eu mando buscar outro lá no Piauí - Pequeno mapa do tempo

18- Com diploma de sofrer de outra universidade – Tudo outra vez

19- A minha alucinação é suportar o dia a dia – Alucinação

20- Os pés cansados e feridos de andar légua tirana - Fotografia 3X4

Mas diante de tudo isso, ele, de forma espetacular, como grande artista que era, quando subia ao palco e as luzes o iluminava era pura emoção, vem nos brindar com a bela composição “De primeira grandeza” onde lindamente diz: Quando estou sob as luzes não tenho medo de nada... Aplausos para Belchior e para aqueles que apreciam música de qualidade.

Que a terra lhe seja leve!

Cláudia Coêlho
Enviado por Cláudia Coêlho em 14/01/2018
Reeditado em 01/05/2018
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