Coisa linda
Quando fecho os meus olhos ( toda noite ) o riso da criatura fica estampado no meu cérebro feito uma mensagem codificada em silêncios fabulosos, eu me ajeito na cama, dou um sorriso tranquilo e mastigo em paz a minha fantástica porção de sonhos, são tantos, são frágeis e ao mesmo são torrentes persuasivas de movimentações futuristas. As lágrimas escapam, escapam mansas ao mesmo tempo que temperam a pele do meu rosto, é um mar que vira rio na Guanabara dos meus sentidos, meu seio se aquece na lua cheia bem no meio das águas. A criatura está lá, com seus meticulosos lábios pequenos que balbuciam músicas que parecem feitas pra ela, assim como os poemas que ela nem sabe que existam, mas foram feitos para acariciar o prazer dela, numa espécie de cumplicidade inexorável, sente que é recíproco todo o conteúdo da minha odisseia poética. Eu me ajeito mais um pouco, quase que exigindo um translado metafísico, quem disse que isso não é possível? Eu sei que a criatura é de uma leveza sensacional, então, aperto meus olhos mais um pouco, para que fique presa nas retinas, dançando distraidamente com a singularidade zen de uma Madonna enfeitiçada pelo mago da contemplação. Uma Madonna volátil sobrevoando calmamente os poros, as linhas, as entrelinhas, o sexo, a expansividade, o pérvio... Há uma janela ali, que dá para a saída de tudo isso, há uma porta também, trancada a sete chaves ( engoli todas elas ), fiz uma grade para a janela, verifiquei com zelo e paixão, não há chances, nenhuma chance de sorrateiramente alguém roubar sua alegria. Quando fecho os meus olhos, rodopiam lirismos e exibições sensuais que eu aprendi com você, criatura de carne e osso. Criatura das fortalezas múltiplas, dos delicados sorrisos. Ah, por último, em caso de sufocamento, fique tranquila coisa linda, mesmo que eu não abra nunca mais os olhos, tem um balão ali, bem do outro lado do meu cérebro, pegue as chaves reservas e desapareça daqui.