PRA NOSSA MULHER
A nossa mulher é criatura encantada que a gente cuida com medo de quebrar, de danificar, de machucar. É ela quem nos rega, nos imanta e dá corda para o coração nunca se cansar de trabalhar. A nossa mulher é guerreira absoluta que nunca foge à luta, não importa quantos inimigos terá pela frente. É o nosso esteio, nosso cabresto, nosso chão, nossa luz. É por ela que vemos, sentimos, nos mesclamos ao nosso mundo. Pelas suas mãos entendemos o bailar da vida, as cadências cruéis do medo, o galopar abrupto do querer-bem. A nossa mulher é a raiz que ampara cada faceta da nossa alma, cada pétala bendita da nossa razão. A nossa mulher ecoa o que vem de dentro de gente e que nem sempre entendemos todos seus acordes. É a vilã atroz que infesta de cacos de vidro nossa fronha, para que só chamemos sonhos quebrados e doentios. A nossa mulher respinga aquela ferrugem fétida que atormenta cada segundo que temos a cumprir. É dela que tiramos aquela dor berrante que se nega a partir, que teima em dar trégua, que se crava na pele até se cansar de sangrar. A nossa mulher é a voz mais terna de um amor liberto, que nos revigora e faz tudo valer a pena, tudo ficar bem. É nela que aportamos quando vierem ventos pontiagudos, quando a solidão bater à porta implorando para entrar, quando a tristeza se misturar com o ar que respiramos e inundar nossos pulmões. A nossa mulher é a maldição que o mal nos rogou e que nada poderá arrancar da gente. É por ela que nos afogamos no próprio suor, virando um monte de carne fria, podre e inerte. A nossa mulher é quem sacode nossos medos para que se dissipem de uma vez por todas. É ela quem faz desencarnar nossas angústias, trazendo de volta aquele lado humano que a rispidez dos dias chutou para longe. A nossa mulher ancora cada pedaço que resulta no que somos e, se puder, esmagaria cada um deles com seu cotovelo em chamas para que nada mais se perpetue do que fomos certo dia.
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