O BAÚ DA DONA ARMINDA
Aquele velório estava bem concorrido. Numa estimativa pessimista, deviam ter umas quarenta pessoas ao redor do caixão. Não podia mesmo ser por menos. Dona Arminda, com seu jeitinho de mineira, cativava qualquer um nos primeiros cinco minutos de conversa. Desde quando ficou viúva, isso já fazia mais de trinta anos, passava as tardes debruçada na janela do seu sobrado, acenando e sorrindo para quem passasse perto. Cidade pequena, Paraguaçá do Sul, todo mundo se conhecia e a vida de todos tinha alvará pra ser comentada por quem
bem quisesse. Professora da única escola municipal da região por quase cinquenta anos, Tia Arminda, como ficou mais conhecida, bem que merecia ter toda aquela gente na sua despedida derradeira, porque a maioria tinha aprendido a ler com sua preciosa ajuda. E como não teve filhos, acabava tendo com cada aluno uma relação bem maternal, carinhosa e paciente. Muita gente chorava não se conformando em vê-la no caixão com o mesmo vestido de bolinhas azuis que por tantas vezes usou em sala de aula. Foi quando lembraram do baú. Corria um boato na cidade que ela tinha um segredo guardado a sete chaves num baú que ficava no canto da sua sala e nunca tinha sido aberto para ninguém. Os seus alunos, ficavam elocubrando sobre o que que teria lá dentro. Isso acontecia principalmente quando matavam aula pra comer manga do pé no terreno do Antenor, aquele velho rabugento que saía berrando quando flagrasse alguém subindo na sua mangueira. - Devem ter caveiras de alunos que ela matou porque não fizeram a lição de casa direito - essa era umas das possibilidades que mais faziam a imaginação de todos ir pro espaço. - Deve ter muito dinheiro guardado, porque ela não gastava nada com ninguém. Ou: - O baú deve as fotos de um amor secreto que ela manteve por toda vida. E por aí vai. Depois do enterro, resolveram nomear comissão pra ir à casa dela abrir o baú e resolver esse mistério de uma vez por todas. Tonhão, Miro da padaria, Fonério, da farmácia e Eleomildo, aposentado dos Correios, foram encarregados daquela cobiçada missão. O baú era de madeira maciça e a chave não estava junto. Forçar? Arrombar? Acabaram optando por quebrar a fechadura, coisa que deu um trabalhão e tanto. Quando finalmente abriram o tal baú, tiveram uma surpresa: dentro tinha uma outra caixinha, de uns 15 cm X 15 cm, também trancada. Essa foi mais fácil de abrir e dentro dela... outra caixinha, obviamente também trancada. Resumo da história: dentro do tal baú tinham 6 caixas, uma dentro da outra. Na última encontraram uma chave, daquelas antigas, sem a menor indicação do que viria a abrir. Nenhuma pista, nada, absolutamente nada. Apenas uma simples, misteriosa e solitária chave. Pra que serivira acabou se tornando o tema das conversas dos moleques que subiam na mangueira do neto do Antenor, Remenegildo, que herdou do avô seus berros ensandecidos.
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