QUANDO O CASAMENTO VIRA TRISTE VARANDA
Casamento depois de um tempo fica esquisito. Pessoa que um dia foi estranha à outra, vira siamesa. Parece que depois de tantas noites dormidas lado a lado, o ar expirado por uma foi tão inspirado pela outra que não dá mais pra saber o que veio de quem. Acho que as peles se misturam, as células passam a se visitar sem parar, os dois perdem sua alma original, viram alma única. Casamento depois de um tempo faz com que dois seres, com passado que não tem absolutamente nada a ver um com outro, passem a compartilhar da mesma raiz, pra dela extraírem o pólen que os manterá vivos. A coisa vai mais além. Os pensamentos por vezes se confundem, num embaralhamento que não dá mais pra reconhecer o fio da meada. Acontece, por vezes, de terem que romper este hímen originalmente perpétuo. Daí toda aquela simbiose, toda aquela unidade que foi se fazendo grão a grão virá poeira, desmilinguindo tudo o que tinham em comum, tudo o que acabou ficando meio igual. Voltam a ser dois estranhos em que nada coincide, nada orna, nada se encaixa, nada fica legal. Tudo aquilo construído dia depois de dia se transforma num imenso nada, triste e definitivo nada. Nessa varanda, triste varanda, solitária varanda, não restará um teco que seja de gratidão, de saudade, de querer-bem. Sobreviverá apenas as asas do rancor, o gosto pesado do lamento e a dor teimosa do tempo perdido. E nada mais.
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Texto elaborado do alto dos 25 anos de vida em comum.
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