Antipodais.
Pós-almoço do dia primeiro, sentindo o sol aquecendo a pele enquanto o olhar oscilava em descansar e buscar sem compromisso o pássaro buliçoso pelos galhos ocultos da árvore frondosa deliciava-se em saber e sentir somente a Paz, quando a criança brincando na vizinhança rompeu o silêncio, mantendo a serenidade passou a divagar no faz-de-conta da menina, recordando-se de sua própria infância e das brincadeiras pueris que seus filhos faziam... Algumas coisas perduram mesmo na vida alheia. Eis que a menina de mais idade pergunta sobre a mãe da pequena, a resposta lhe surpreendeu tanto pela franqueza quanto pela segurança.
- Eu sou adotada, não tenho mãe, já te disse! ! Você quer ou não quer brincar?
A curiosidade lhe assaltou, imaginou que a menina tivesse uns quatro aninhos, e mesmo sendo adotada normalmente reconheceria alguém por mãe, qual seria sua história? Talvez nunca venha a ter conhecimento daquela trajetória, mas a frase e postura da criança lhe rendeu profunda reflexão:
Convivia há muitos anos com um adulto, que para todo insucesso tinha uma justificativa, compensação, ou culpado (nunca si mesmo). Por que seus relacionamentos não iam adiante? Por que as pessoas eram sempre más com ele? A sua vida sempre um constante lamentar, desconhecia o reinventar-se, aprimorar-se, superar-se, era o senhor soberano e absoluto do cargo coitadinho do mundo. Ostentava bens e vestia marcas famosas, demonstrando possuir um valor que não encontrava em si mesmo.
Num universo tão próximo, posturas de vidas tão distintas, e totalmente desvinculadas da idade, que definitivamente não pressupõe experiência e sabedoria. Fascinante imaginar a mulher já semeada nesta menina, que segue sem identificar-se com a vítima da história.
Posto que tudo na vida é construído de opções, concluiu que no decorrer deste ano incipiente buscaria distanciar-se de pensamentos derrotistas que tornam pessoas em fardos, e agiria mais como a prática e confiante criança que naquele instante apenas pretendia continuar sua brincadeira de casinha.
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* Trata-se de um desafio para exemplificar vivencialmente a palavra usada em uma revista técnica.