O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO
O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO
Li, na revista Galileu, que pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, declararam que o monge budista Mathieu Ricard era o homem mais feliz do mundo. Aquele ex-pesquisador francês, que vive hoje no convento de Katmandu, no Nepal, é um dos confidentes do Dalai Lama. O grupo de cientistas constatou que o cérebro dele produz um nível de ondas gama nunca antes relatado no campo da neurociência. O estudo teve início em 2009, quando o neurocientista
daquela universidade, Richard Davidson conectou 256 sensores no cérebro do monge e os resultados mostraram uma atividade mais elevada no segmento esquerdo do córtex pré-frontal, se comparado ao direito, no cérebro. Quando Mathieu Ricard meditou em compaixão, o cérebro dele produziu níveis de ondas gama ligadas à consciência, atenção, aprendizado e memória que nunca haviam sido relatados na literatura da neurociência. A exploração do cérebro dele revelou que, graças à meditação, ele tem uma capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade...Pois, sob meu ponto de vista, esse cara não é o “homem mais feliz do mundo”. Nunquinha mesmo! Senão vejamos: o cabra num toma uma cervejinha gelada, batendo papo com os amigos p´ra falar da vida alheia no Letra & Música, de Ary Ramalho; num sabe o que é Muriú, Jacumã, Cotovelo, Pirangi; nunca frequentou a Confeitaria Atheneu, aos sábados depois do meio-dia; nem imagina o que é um joguinho de sinuca com Salatiel, Cabelo Branco, Primo e Cachorro nas segundas-feiras à noite no Salão Coruja II e nos sábados à tarde na casa de Pereira, com outro time de “cobras”; num sente o prazer de degustar uma costelinha de cordeiro nobre com farofa de feijão verde, preparados por Edite Faustino; desconhece o sabor dos pratos de camarão e peixe, nos restaurantes “Camarões” em Ponta Negra ou no Midway; num faz idéia do que é comer munguzá e tomar café com tapioca de côco e queijo de manteiga, num domingo às seis da manhã, na barraca de Maria Firma, na feirinha das Rocas; nunca comeu a feijoada do meu compadre, amigo e irmão Araken - de saudosa memória - no veraneio na praia do Cotovelo e nunca provou da carne assada do Lira; num tem a mais remota idéia do que é guiar um Fusquinha, tomando vento na cara ao longo da Via Costeira, nem tampouco andar num Selvagem, pelas dunas de Jenipabu; nunca leu uma crônica de João Ubaldo Ribeiro ou Luis Fernando Veríssimo e nem um livro de Jorge Amado; num possui um aparelho de som - dos bons - para ouvir a Nona ou as quatro peças que compõem o Anel dos Nibelungos; nunca testemunhou uma discussão intelectual entre os professores Dalton Melo de Andrade e Eudes Moura; provavelmente não viu Brigite Bardot tirar a roupa em “E Deus Criou a Mulher” e, com certeza, Sônia Braga fazer o mesmo em “Dona Flor e seus Dois Maridos”; nem mesmo tem uma idéia do que seja apreciar o por do sol no Potengi, chupetilhando um uisquinho no Iate Clube, como, também, jamais soube o que é tomar uma cachacinha numa das barracas da faixa de terras alvíssimas que adentra ao rio Tapajós, em Alter do Chão, nos arredores de Santarém, no Pará; nunca tomou banho num dos sangradouros do Itans, durante o inverno caicoense; nunca pulou do trampolim de Areia Preta, nem, também, tomou banho no Poço do Dentão na Praia do Meio; nunca “pegou morcego” de bicicleta agarrado nas grades das janelas do ônibus de Assis Gomes p´ra subir a ladeira do Baldo e nunca teve o prazer de andar na Priquiteira; talvez nunca tenha folheado a revista Playboy e, finalmente, nunca, jamais, em tempo algum “homenageou” Marta Rocha e suas duas polegadas a mais...Como é que pode, um camarada desses, ser considerado o “homem mais feliz do mundo”??? Será que - contrariando os versos de Ataulfo Alves - eu era infeliz e não sabia???