Você sabe com quem está falando?
O Brasil é um país relacional, você não é o João, o Miguel ou a Maria. Você só existe enquanto filho do Sr “Fulano de Tal”, formado na Universidade X, trabalha em “Lugar Tal”, com “Beltrano de Tal”, é mulher ou amante de “Sicrano de Tal”, e assim por diante. É preciso está inserido em um determinado ciclo social para ser reconhecido.
Nossa sociedade foi fundada em relações verticais hierarquizadas. Embora, se pregue a igualdade entre todos, a prática social se dá com base na verticalidade. Essa relação é tão forte que ela existe, independentemente, de classe social. Uma espécie de reconhecimento sociológico entre iguais e desiguais.
O antropólogo Roberto Da Matta, descreveu a expressão acima em 1979, e ainda hoje, ela se faz presente na nossa sociedade, como uma doença a provocar diferenciação social entre as pessoas, que de forma quase automática já lançam mão de um: sabe com quem está falando?
Recentemente, presenciei uma situação interessante: esqueci minha carteira de motorista numa outra bolsa (isso acontece com as mulheres), ao ser parada na “blitz” eu nem discuti, só expliquei que tinha esquecido e liguei para alguém trazê-la. Aqui, onde moro, é uma Capital com ar provinciano, poucas famílias dominam o poder há anos, praticamente todos se conhecem ou sabem o que cada um faz para sobreviver.
Chegando ao trabalho, comentei com um segurança e com alguns colegas o motivo do meu atraso devido à blitz. O segurança, de forma bem natural, disse logo: Doutora, por que a senhora não se identificou ou me ligou, que eu tinha resolvido. Ou seja, o velho sabe com quem está falando?
Infelizmente, ainda continua impregnada em nosso imaginário cultural a memória do nosso passado histórico de colonização, que influenciar as relações sociais existentes. No passado, até os escravos se utilizavam desse artifício, se identificando como superior, em determinadas situações, por ser escravo de alguém mais poderoso dentro da hierarquia colonial.
As mulheres, que historicamente não tinham status social, utilizavam-se da expressão, ligando seus status ao do marido ou amante. Abusar, estuprar, ou mesmo dar uma "cantada" numa mulher ligada a um homem poderoso era algo inadmissível, não pela mulher, mas pelo homem, pois não são as pessoas que importam em sociedades hierarquizads e sim suas relações sociais.
Órgãos públicos são os lugares preferidos para o uso dessa expressão. No entanto, é no trânsito onde ela é mais utilizada. Colisão de veículos é algo muito ruim, mas, "bater" o carro numa cidade estranha é um verdadeiro “caos”. Afinal, na sua cidade você tem relações suficientes para fugir ao que determina a lei, em outra cidade, tudo muda, é preciso urgentemente ir atrás de um amigo que tenha um amigo ou que conheça alguém ligado à autoridade local. Não ter relações no Brasil é um estado de Anomia Social.
Quem vai muito às Repartições Públicas sabe como ter um nome, um “peixe”, um parente, ou um amigo, abre portas. Os guardas de trânsito sabem disso como ninguém. Isso mesmo! Infelizmente, as leis e regras não valem igualmente para todos, chegou-se ao ponto de um guarda de trânsito se sentir constrangido porque pediu os documentos a um Desembargador, pedindo, inclusive, desculpas porque ao realizar seu trabalho, cometeu um “erro gravíssimo” ao não identificar a autoridade, pois se presume que os “iluminados” devem ter uma estrela na testa dizendo quem são. A expressão não é uma pergunta, é uma afirmação, o outro tem que saber de quem se trata.
Assim, aos inimigos os rigores da lei, aos amigos os favores da lei. Minha saudosa mãe já dizia: Quem tem nome deita na fama! Pura verdade! Dizer quem sou inclui dizer a que casta eu pertenço, qual é minha dinastia e como devo ser tratada.
Alguns pais, já precavidos, colocam toda a árvore genealógica no nome dos filhos. No Nordeste, ainda vigora os compadrios, restos imortais do coronelismo que tanto mal fez a essa região. Ter um padrinho importante é o ápice para aqueles desprovidos de fortuna e de nome. Dizer o nome, não é um simples ato de identificação por aqui, é se colocar na lupa do outro para análise.
Assim, cada vez que estas posturas se repetem demonstram que estamos muito aquém de uma verdadeira igualdade. Quando se mistura o público com o privado, somente pequenos grupos privilegiados saem ganhando. Por essas e por outras, tem gente que acha “jeitinho” para tudo, desde burlar uma simples fila de banco a coisas mais graves, e o fazem achando a coisa mais normal do mundo, um direito adquirido pela posição que ocupam.
Nossa sociedade foi fundada em relações verticais hierarquizadas. Embora, se pregue a igualdade entre todos, a prática social se dá com base na verticalidade. Essa relação é tão forte que ela existe, independentemente, de classe social. Uma espécie de reconhecimento sociológico entre iguais e desiguais.
O antropólogo Roberto Da Matta, descreveu a expressão acima em 1979, e ainda hoje, ela se faz presente na nossa sociedade, como uma doença a provocar diferenciação social entre as pessoas, que de forma quase automática já lançam mão de um: sabe com quem está falando?
Recentemente, presenciei uma situação interessante: esqueci minha carteira de motorista numa outra bolsa (isso acontece com as mulheres), ao ser parada na “blitz” eu nem discuti, só expliquei que tinha esquecido e liguei para alguém trazê-la. Aqui, onde moro, é uma Capital com ar provinciano, poucas famílias dominam o poder há anos, praticamente todos se conhecem ou sabem o que cada um faz para sobreviver.
Chegando ao trabalho, comentei com um segurança e com alguns colegas o motivo do meu atraso devido à blitz. O segurança, de forma bem natural, disse logo: Doutora, por que a senhora não se identificou ou me ligou, que eu tinha resolvido. Ou seja, o velho sabe com quem está falando?
Infelizmente, ainda continua impregnada em nosso imaginário cultural a memória do nosso passado histórico de colonização, que influenciar as relações sociais existentes. No passado, até os escravos se utilizavam desse artifício, se identificando como superior, em determinadas situações, por ser escravo de alguém mais poderoso dentro da hierarquia colonial.
As mulheres, que historicamente não tinham status social, utilizavam-se da expressão, ligando seus status ao do marido ou amante. Abusar, estuprar, ou mesmo dar uma "cantada" numa mulher ligada a um homem poderoso era algo inadmissível, não pela mulher, mas pelo homem, pois não são as pessoas que importam em sociedades hierarquizads e sim suas relações sociais.
Órgãos públicos são os lugares preferidos para o uso dessa expressão. No entanto, é no trânsito onde ela é mais utilizada. Colisão de veículos é algo muito ruim, mas, "bater" o carro numa cidade estranha é um verdadeiro “caos”. Afinal, na sua cidade você tem relações suficientes para fugir ao que determina a lei, em outra cidade, tudo muda, é preciso urgentemente ir atrás de um amigo que tenha um amigo ou que conheça alguém ligado à autoridade local. Não ter relações no Brasil é um estado de Anomia Social.
Quem vai muito às Repartições Públicas sabe como ter um nome, um “peixe”, um parente, ou um amigo, abre portas. Os guardas de trânsito sabem disso como ninguém. Isso mesmo! Infelizmente, as leis e regras não valem igualmente para todos, chegou-se ao ponto de um guarda de trânsito se sentir constrangido porque pediu os documentos a um Desembargador, pedindo, inclusive, desculpas porque ao realizar seu trabalho, cometeu um “erro gravíssimo” ao não identificar a autoridade, pois se presume que os “iluminados” devem ter uma estrela na testa dizendo quem são. A expressão não é uma pergunta, é uma afirmação, o outro tem que saber de quem se trata.
Assim, aos inimigos os rigores da lei, aos amigos os favores da lei. Minha saudosa mãe já dizia: Quem tem nome deita na fama! Pura verdade! Dizer quem sou inclui dizer a que casta eu pertenço, qual é minha dinastia e como devo ser tratada.
Alguns pais, já precavidos, colocam toda a árvore genealógica no nome dos filhos. No Nordeste, ainda vigora os compadrios, restos imortais do coronelismo que tanto mal fez a essa região. Ter um padrinho importante é o ápice para aqueles desprovidos de fortuna e de nome. Dizer o nome, não é um simples ato de identificação por aqui, é se colocar na lupa do outro para análise.
Assim, cada vez que estas posturas se repetem demonstram que estamos muito aquém de uma verdadeira igualdade. Quando se mistura o público com o privado, somente pequenos grupos privilegiados saem ganhando. Por essas e por outras, tem gente que acha “jeitinho” para tudo, desde burlar uma simples fila de banco a coisas mais graves, e o fazem achando a coisa mais normal do mundo, um direito adquirido pela posição que ocupam.