Pensando no futuro
Algumas pessoas passam a vida inteira pensando no futuro, isto é, no seu futuro. Fazem planos, traçam estratégias, impõem-se metas e objetivos para após longos anos de trabalho, minuciosamente planejado, diga-se de passagem, possam chegar a sua velhice e enfrentar os reveses que a própria velhice impõe com a tão almejada, sonhada e esperada TRANQUILIDADE. Ter uma velhice tranqüila. Confesso que sou uma destas pessoas, mas em alguns momentos fico questionando a sua validade.
Não seria melhor deixar a coisa toda fluir sem pensar muito no que pode ou não dar certo ou errado, sem esquentar com aquilo que ainda é uma suposta e longínqua hipótese que poderá nem se tornar uma realidade? Será que o fato da preocupação com o futuro, e de como vamos nos encontrar nele, influi, ou mesmo, modifica o próprio futuro? É realmente importante?
Uma música do Belchior, que está tocando agora na voz da Ana Carolina, chamada Coração Selvagem, me fez levantar todas estas reflexões.
Belchior me faz pensar. Em minha opinião ele é um dos melhores representantes da nossa MPB de todos os tempos, sou seu fã de carteirinha, tenho até uma foto ao seu lado, certa vez que esteve aqui em Laguna e jantou no restaurante Casa de Anita do amigo e ciclista Waldizinho.
Seu Coração Selvagem me fez pensar. Canta sua ansiedade pelo novo , pela aventura de estar sempre deixando para traz a segurança e a estabilidade em busca do desconhecido, bem ao contrário de todos nós que gostamos da rotina e de estar sempre cientes daquilo que nos espera a cada dia , nos seus mínimos detalhes , sem sustos , sem surpresas.
Belchior não esta ligando muito para o que poderá acontecer em sua velhice, talvez ele siga o que Jesus chama a atenção no Sermão da Montanha:
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. ”(Matheus 6:34)
Talvez, nosso grande problema seja justamente nossa inquietação demasiada “pelo dia de amanhã” esquecendo-se que ele por hábito cuida de si mesmo.
O certo , quem sabe , é vivermos cada dia como se fosse o único, mesmo não sendo o último? Resolvendo os problemas conforme fossem surgindo, deixando que o dia seguinte viesse com sua carga, com suas expectativas e inquietações.
Porque preocuparmos com algo que ainda nem sequer existe? E que talvez nem nos convide a fazer parte?
O futuro? É uma incógnita, é uma estrada logo ali em frente, tão certo que irá chegar, mas com a incerteza de como e em que condições, nem se estaremos nele.
Vamos viver cada dia em toda sua plenitude, com todos os seus reveses e alegrias, com todas as surpresas que ele nos oferece.
Um dia de cada vez ouvindo Belchior cantar:
Talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som, a minha fúria
E essa pressa de viver
Esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão.