No Rio, há bairros que eu não moraria nem financiado pela Odebrecht. Um deles é Ipanema, não gosto. Outro que antipatizo, anexo ao primeiro, é o Leblon. Detesto. Não me perguntem o motivo, é uma daquelas antipatias involuntárias. Evito até frequentá-los. Copacabana possui mais carisma, tenho uma atração imprudente pelo caos. Porém, confesso, preferia aquela Copacabana de ontem, da orla coalhada de prostitutas, das boates brilhando em neon, da Help dançando com pernas lançadas sobre o calçadão da Av. Atlântida, da desafiadora galeria Alaska, daqueles híbridos prédios de quitinetes... Nunca seria minha residência, mas em ocasiões esparsas gosto de caminhar pela princesinha do mar.
Com exceção da Urca, que margeia à Baía de Guanabara, a verdade é que não me afeiçoo à zona sul carioca, talvez pela presença do mar aberto, aquele abismo para o infinito que oprime e ameaça; talvez, pela minha simplicidade visceral, que não convive bem com a sugestiva ostentação que paira no céu da elite. Nasci com um ranço popular que sorri diante de uma casinha com varanda em Piedade, que faz banquete almoçando num rodízio de carnes em Abolição, que se sente feliz numa rua pacata da Vila da Penha e que escolheu acordar todos os dias numa pequena vila romântica da Tijuca, diante da firmeza rochosa da floresta coroada pelas torres do Sumaré. Há aqui um ar que faz bem, que inspirou mentes como Nelson Rodrigues, Victor Giudice, Aldir Blanc, Tim Maia, Ed Motta, Erasmo Carlos e tantos outros. A Tijuca é incubadora de gênios.
Que digam que sou um provinciano, sempre achei que Machado de Assis também era. Por sinal, a Tijuca está em Memórias póstumas de Brás Cubas. Região de terra fértil, pisa-se e cria-se raiz. Os que saem, vão pela ilusão da prosperidade. Os que ficam, vão além. Os antigos cinemas extintos da Praça Saenz Peña, que formaram legiões de cinéfilos; o cheiro da cerveja feita pelos operários de macacões brancos da velha fábrica da Brahma (hoje desativada); o Instituto de Educação, que produziu nossas professoras ancestrais; o Colégio Militar e o Pedro II, que moldaram muita gente boa. A Tijuca fica entranhada nos olhos, na boca, na pele. Não há prazer maior do que sentar em contemplação budista na pracinha Xavier de Brito, meu quintal desde a primeira infância. Um caso de amor.
Por favor, troquem-me de corpo, mas não me mudem de bairro.
Com exceção da Urca, que margeia à Baía de Guanabara, a verdade é que não me afeiçoo à zona sul carioca, talvez pela presença do mar aberto, aquele abismo para o infinito que oprime e ameaça; talvez, pela minha simplicidade visceral, que não convive bem com a sugestiva ostentação que paira no céu da elite. Nasci com um ranço popular que sorri diante de uma casinha com varanda em Piedade, que faz banquete almoçando num rodízio de carnes em Abolição, que se sente feliz numa rua pacata da Vila da Penha e que escolheu acordar todos os dias numa pequena vila romântica da Tijuca, diante da firmeza rochosa da floresta coroada pelas torres do Sumaré. Há aqui um ar que faz bem, que inspirou mentes como Nelson Rodrigues, Victor Giudice, Aldir Blanc, Tim Maia, Ed Motta, Erasmo Carlos e tantos outros. A Tijuca é incubadora de gênios.
Que digam que sou um provinciano, sempre achei que Machado de Assis também era. Por sinal, a Tijuca está em Memórias póstumas de Brás Cubas. Região de terra fértil, pisa-se e cria-se raiz. Os que saem, vão pela ilusão da prosperidade. Os que ficam, vão além. Os antigos cinemas extintos da Praça Saenz Peña, que formaram legiões de cinéfilos; o cheiro da cerveja feita pelos operários de macacões brancos da velha fábrica da Brahma (hoje desativada); o Instituto de Educação, que produziu nossas professoras ancestrais; o Colégio Militar e o Pedro II, que moldaram muita gente boa. A Tijuca fica entranhada nos olhos, na boca, na pele. Não há prazer maior do que sentar em contemplação budista na pracinha Xavier de Brito, meu quintal desde a primeira infância. Um caso de amor.
Por favor, troquem-me de corpo, mas não me mudem de bairro.