QUANDO EU MORRER.
Se eu morresse hoje ,levaria saudades de poucas coisas do ano que se passou . Não levaria saudades das mulheres promíscuas que desfilaram nas noites imundas desta metrópole , nem dos lábios carnudos feitos por botox. Dos silicones das mulheres nem me lembraria, acho tudo isso o indicativo perfeito da pequenez de um vivente. Mas levarei saudades de todas que abusaram do natural.
Não levarei saudades da promiscuidade politica que engoliu nossa pátria. Das malas de dinheiros que atravessaram as avenidas e das corridinhas idiotas dos larápios . Destes especificamente nem lembrarei .pra mim ,as mãos que subtraem o erário publico são dignas de serem amputadas das memórias.
Não levarei saudades das religiões , que de religião nada tem. Me esquecerei já no ultimo suspiro desta maquina de sugar a boa fé dos fiéis e deles arrancarem o pão das suas mesas.
Não levarei saudades das poesias rimadas metidas a serem mais que as outras. Nem dos livros de capas lindas com interiores vazios, parecendo quartos inabitados.
Não levarei saudades dos buracos nas ruas das cidades dos interiores de Minas, nem dos moradores que arrancaram as janelas de madeiras maciças para substitui-las por janelas de vidros.Nem dos meninos que trocaram as pipas pelas telas de celulares e games.
Desta sociedade moderna pouca coisa levarei. Por exemplo levarei comigo o olhar sem horizontes dos escravos da cracolândia que margeiam a avenida Antonio Carlos. Também levarei as caras de cansaço dos trabalhadores nos coletivos superlotados.
No entanto, levarei comigo as coisas simples, essas que ninguém percebem, como uma vegetação de beira de estrada. A florada dos cafezais, os arrozais cacheados , os carros de bois gemendo no estradão.
Mas , a coisa mais importante que levarei é a voz da minha mãe me dizendo , menino a honestidade agrada a Deus, essa voz é um som que ecoa em meus ouvidos . Outra coisa que levarei comigo é a imagem da professora Ana Lucia segurando minhas mãos para eu aprender a escrever.
Enfim ao arrumar minhas malas, não esquecerei das amizades que fiz, e das que deixei de fazer.Colocarei um livro de Carlos Drummond de Andrade, outro de João Guimarães Rosa e tantos outros que por infinitas páginas passeei. Meus poemas irão comigo, eu e eles somos misturas que entrará para a eternidade.