NOS TEMPOS ÁUREOS DA ADVOCACIA
Formei-me em 1965, no ITE, Bauru. Alguns colegas ainda em Lins, sobressaíram conquistando bons cargos públicos, como o Cardim, Roberto, Remo. O famoso criminalista Damásio estudava lá, um ano à frente. O ex-deputado Diogo Nomura eleito transferiu-se para perto da capital.
No quarto ano, já podíamos se inscrever na OAB, como Solicitador, e atuar em algumas causas. A parte criminal era a mais interessante. Não se ganhava nada. Era dativo. Tínhamos bons professores, a maioria desembargadores. Um dia, colega de classe disse-me que tinha sido condenado por facilitar prostituição. Apelara e o processo estava nas mãos de um dos professores, desembargador. Não tinha coragem de falar com ele. Propus interceder a favor dele. Expliquei o caso, e o professor prometeu estudar com carinho. Foi absolvido.
Atuei em diversas cidades. Sempre em causas pequenas que pouco rendia, às vezes nada. Nas maiores causas, advogados famosos eram contratados, da capital.
E às vezes para ajudar o cliente íamos contra a ética. Por exemplo, aconselhar a mãe do acusado para falar com a mulher do juiz, suplicando para absolvição por ser arrimo de família. Certa ocasião, mulher de amigo chegado, sem carta de habilitação, se envolveu em acidente, causando ferimento no outro motorista. Pediu-me para que fosse à delegacia na tentativa de não ser processada. A gente chegava com a maior cara-de-pau e pedia à autoridade quebrar o galho, deixando entrever que seria bem compensada. Noutra ocasião, fui a um cartório da capital para ver um processo. O escrivão estava atendendo algumas pessoas importantes e disse-me para esperar lá fora que ele passaria o processo pela janela. Fiquei esperando. Alguns minutos após, eis que o calhamaço cai no chão próximo onde estava. Depois de tomar anotações, procurei o escrivão mas não o encontrei. Simplesmente fui embora. Só sei que o meu cliente não foi mais intimado nem citado para o processo em questão.