A persuasão da aparência!
 
Sem família, casa, comida. Sem emprego, vivendo da “boa vontade” de algumas pessoas, vivendo embaixo de pontes, viadutos. Assim vivem os moradores de rua, “os mendigos”.
   Messias é um deles, vive em frente a um shopping pedindo esmolas. Foi parar nas ruas, pois perdeu a mulher e o filho em um incêndio que atingiu sua casa; quase enlouquece, foi viver nas ruas. O shopping onde Messias fica é movimentado e frequentado por pessoas de "classe alta". Um dos seguranças do estabelecimento , Felipe, é o único amigo de Messias. Ele o ajuda sempre que pode, levando comida. 
   Certa vez, Messias foi acusado injustamente de roubo e a maioria das pessoas o acusou devido sua aparência.
   - Peguem o ladrão, seguranças! Essa senhorita acaba de ser assaltada. - Ordena Luiz, o dono do shopping.
   - O marginal não deve estar longe. Vamos, Felipe! - Diz Giovani, um segurança experiente..
   O shopping estava lotado. Vendedores e clientes assustados. A maioria já tinha um suspeito: Messias, o mendigo. 
   - O medindo deve ter roubado para comprar o que comer. - Disse uma senhora.
   - É claro que o mendigo é o ladrão! - Exclama uma senhora rica.
   - Pobre mendigo! - Disse um rapaz.
   Instantes depois, o segurança Giovani aparece com o suspeito: o mendigo, que parece apavorado. 
   - Senhor, não roubei nada. Sou inocente! - Afirma o mendigo, assustado.
   - Cale-se, seu marginal! - Disse Geovani.
   - Eu não roubei essa senhorita! - Exclama Messias.
   - Cale-se! - Disse Geovani.
   - Não tenho nada nesta vida, mas nem por isso roubo as coisas das pessoas. Sou honesto! - Declama Messias, desesperado.
   Em seguida, Felipe também chega com outro suspeito: um rapaz bem vestido, que estava dirigindo um "carrão". Ele frequenta festa da classe alta e tem uma boa vida, chama-se Alfredo.
   - Alfredo? - Perguntam.
   - Que brincadeira é essa? Solte o meu filho! - Disse a mãe de Alfredo, assustada.
   - Não, não é uma brincadeira, senhora. - Disse Felipe.
   - Mãe... Ajude-me, mãe! Eu preciso de dinheiro!. - Disse Alfredo, descontrolado.
   Felipe retira do bolso de Alfredo o relógio e o celular que foram roubados. Ninguém parece acreditar que Alfredo é o "ladrão". 
   - Não pode ser! Para que ele roubaria? - Indaga a mãe dele.
   - Para comprar drogas! Ele...ele me roubou. - Declara a vítima, em choque.
   - Como será que posso reparar esse erro? Afinal, o mendigo Messias não é o ladrão. - Pergunta Luiz.
   - Dê um emprego a esse pobre homem. - Responde Felipe.
   - Sim... um emprego! Faço qualquer coisa, senhor. - Diz Messias, contente.
   - Faxineiro? - Pergunta Luiz.
   - Sim...claro! - Responde Messias.
   - Com seu salário terá o que comer e vestir. - Afirma Felipe.
   - Mas continuarei na rua? - Indaga Messias.
   - Não! Você terá dinheiro e poderá dividir comigo o aluguel da casa onde moro.
    Alfredo não foi preso.  Pagou fiança. Ele foi internado em uma clínica de reabilitação de dependentes químicos e até hoje a família luta para que ele se liberte do vício. Quanto a Messias, cresceu na vida profissional: de faxineiro a vendedor e agora ele e Felipe têm uma oficina mecânica.
   Por vezes somos atravessados por discursos construtores da ideia de que a aparência diz muito a respeito de alguém. Estamos de tal forma persuadidos por esse dizer que a compreensão da real situação tarda. esta, no entanto, é reconhecida quando desfeito o que fomos convencidos a crer.

CALYNE PORTO
Calyne Porto de Oliveira, filha de Ana Lúcia de Oliveira e Valberto Porto Oliveira, cursa Letras Vernáculas na UFS (Universidade Federal de Sergipe). Fez parte de alguns livros, dentre eles, Jovens Cronistas do Sertão e das Antologias da Loja Maçônica Cotinguiba.

 
Calyne Porto.
Enviado por Marcos Antônio Lima em 06/01/2018
Reeditado em 06/01/2018
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