DIA EUFÓRICO.

     É manhã, quinto dia do ano, sol ameno, pouco vento, muito movimento na rua por sinal. Algumas pessoas apressadas, muitos veículos parados em um congestionamento enorme, é apenas mais uma sexta-feira eufórica. Estou quase a correr pela calçada, apressado em chegar a escola de cursos profissionalizantes. Meus pensamentos tumultuosos perambulam pela cabeça enquanto caminho a passos largos, vastas emoções e pensamentos imperfeitos.

     Os dias são ruins, dias de violência presente em todos os lugares, assaltos a luz do dia. De cara limpa e peito aberto os bandidos estão cada vez mais ousados, assaltam em ponto de ônibus, supermercados, em todos os lugares. Por esse motivo resolvi descer no ponto mais próximo possível da escola, na maioria das vezes em que vou de ônibus para a escola não levo mais carteira e nem celular, um justificado excesso de prudência, eu tenho que andar um pouco mais de cinquenta metros até chegar a escola, vou a passos largos…

    Não demora muito e já estou no meu destino. A escola está vazia, são sete e meia da manhã, sou o primeiro aluno a chegar, estou cursando gestão da qualidade total, é um bom curso, uma junção de outros quatro; metrologia, qualidade, desenho mecânico, auditor ISO. Verdade seja dita, embora seja uma excelente escolha, eu não gostei do curso, mas… Desempregado, ou melhor, como dizem por aí, disponível no mercado, não estou na posição de fazer escolhas, por isso tenho que tentar as mais variadas opções possíveis, e é claro, atirar para tudo que é lado faz parte também.

   Os primeiros alunos começam a chegar, passos curtos, preguiçosos, a maioria cabisbaixa, indiferentes. Aglomeram-se próximos a secretária, eles permanecem cabisbaixos, indiferentes, mas agora distraem-se com os seus celulares nas mãos e fones nos ouvidos. São poucos os que se dispõe a trocar algumas poucas palavras, perguntam qualquer coisa sem importância alguma.

    Eu continuo em meu canto, mais próximo possível da sala de aula, apenas observando todo o movimento. De repente, um número enorme de alunos chegam, em cima da hora por sinal, a escola antes vazia, agora está quase sem espaço. Aos poucos cada aluno procura a sua classe, um a um vão saindo, ainda cabisbaixos com os seus celulares nas mãos, procurando por sua tribo e seu cacique. Quando o relógio marca oito horas em ponto, o sinal toca, um barulho enjoado que machuca os ouvidos. Entro na minha sala e vou para o meu lugar de sempre, bem no canto da parede. A professora chega logo em seguida, hoje é dia de prova, temida prova de desenho mecânico. Estou confiante quanto ao meu desempenho...

    Prova nas mãos, coração acelerado, depois de uma breve leitura e releitura das questões propostas, respondo cada uma delas com muita calma, ainda com tempo de sobra para fazer uma última correção antes de entregar. Quando finalmente entreguei a prova, vejo a professora a corrigiu na minha frente, coração acelerado novamente, veio a primeira notícia boa notícia, tirei dez, depois veio a segunda notícia boa; a professora me disse, " Pode ir embora Tiago, está liberado." Não perdi tempo, fui apressadamente para o ponto de ônibus, enfrentar mais uma parcela do suplício de espera interminável, nada como uma eufórica sexta-feira para nos alegrar.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 05/01/2018
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