________FLOR ÁCIDA
Sorria enquanto descansava a lâmina na gaveta.
Lá fora, o frio, a chuva e o silêncio.
Relia, gargalhava e gargalhava...
Abriu a porta, caminhou até o corpo que,
morno,
ainda murmurava uma confidência no que lhe restava de vida.
_ Descansa! - ela dizia -
flor ácida.
E com as mãos rubras, aveludadas e ainda úmidas,
fazia o sinal da cruz
- desenhando-se no ar -
imaginando o futuro aroma bom traçado pelos vermes.
Findou-se a primavera! - disse ao som de mais uma gargalhada -.
_ Quem diria! Adormecido está! - continuou à beira do corpo. -
Quem sabe se terás paz! Eu te dei o meu leito, ah! Os meus versos e os meus desejos... - suspirou -.
A Flor fechou as cortinas e foi descansar com os seus múltiplos eus.