MANOS, MINAS E CAMPOS MINADOS
Foi no ano de 2004 que eu li uma reportagem sobre crianças e adultos, mortos e feridos, em campos minados por guerras civis no continente africano.
Em 2004, os manos e as minas gritavam e dançavam loucamente nos bailes funk nos morros do Rio de Janeiro. Enquanto isso, na mesma hora, uma senhora, esposa e mãe, mineira, morria ao ser encontrada por uma bala perdida quando dirigia seu carro nas proximidades dos morros cariocas. Era só mais uma vítima das guerras entre policiais, traficantes, gangues rivais e outros desafetos. Ou seria mais uma vítima de acidente no trânsito?
Em 2004, após a morte "acidental" da descuidada senhora mineira , no Rio de Janeiro, a Polícia invadiu os morros. Encontrou armas de fogo de alto calibre, homens armados e minas terrestres.
Antes de 2004, certas palavras já me cansavam. Ainda não gosto dos "manos" com armas, ou de "minas" em "campos minados". Não acredito, porém, que os criminosos se comovam com roupas brancas e pedidos de paz, como se tentou naquele ano.
Em 2004, passeatas e frases não surtiram o efeito esperado, se é que aqueles manifestantes esperavam algum resultado além da divulgação do feito em rede nacional. Eles diziam "Basta, eu quero paz", mas para mim a paz não basta. Com tanta ganância, deslealdade, injustiça, maldade e impunidade, é necessário que haja luta. Que as pessoas aprendam a respeitar a humanidade por boa vontade ou pela força das leis. Quem quiser cruzar os braços, que descanse em paz e espere que as leis mudem para melhor e cumpram-se as leis.
O historiador Capistrano de Abreu fez uma proposta para a Constituição do Brasil, de um único artigo: "Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara. Revoguem-se as disposições em contrário".